quarta-feira, 3 de junho de 2015

Dimensões VII - Lá onde o mar é azul

Sigo para lá
invento um novo tempo

O além é o meu refúgio

Lá, onde o mar é azul 
e as ondas são verdes
Lá, onde tudo se comove
aos meus olhos cor de prata
Lá, onde a dor é mais leve 
e o silêncio se comove
ao cair da noite

Traço no céu um novo caminho
onde o azul é forte
as estrelas meu norte e minha sorte
e em teu colo chorava
a dor da partida

Porque a minha ausência 
me traça um novo destino
eu vou a par do teu fogo
e caminho contigo 
até ao fim do mundo
deste que tomo para nós
num corpo são 
e desesperadamente
belo…o seu rumo

Trago-te um tempo de abraços
uma cesta de beijos
um regaço ajustado a nós
e não me quero ir daqui
sem me rir contigo

Quero um corpo onde me deitar
uns olhos onde me afogar
uma esteira onde me enrolar
quando daqui me ausentar
mas tenho medo da fuga
de me ir sem te encontrar

Quero fugir, mas não, sem antes 
me desocupar da desgraça que ocupo
não, sem antes me consentir 
não, sem antes me desmentir
não, sem antes me despedir 
de quem sou  
da minha realidade
quase, quase inacabada 
no ar que respiro

Não sem antes me encontrar 
verdade na tua verdade
e acabar recomeçando

Por ti…Amor
só por ti. Que a tua força 
seja a  minha vontade 
de fugir, fugir e ficar
lá onde o mar é azul
e as ondas são verdes


Ônix in "A Voz do Silêncio"

Dimensões VI - Consciência

Desenham-se na minha memória as mais variadas figuras. Avisam-me de um perigo eminente, se não consentir no seu desejo maior, que é, sabê-la no alforge do conhecimento da vida, que nunca será medida por um punhado de ideias, antes  uma forma continuada no mundo do saber. Quero que me guie, sempre que me encontre a cair num poço sem fundo, que dizem ser o lugar da fome. Quero que me lembre que não passo de um simples nome a alimentar níveis de consciência. Tão profundo é este sentir que me faz ver que tudo será uma mais-valia, quando chegar o momento da despedida. Só aqui saberei olhar o mundo, e dizê-lo por certo, nas memórias de uma vida.


Posso ser outra verdade enquanto figurante desta minha história. Há dias que se apresenta uma verdadeira história, já outros, o seu brilho é um foco descontinuado nas figuras geométricas que desenharam o mundo. Tão perto que estou desta verdade, porém esqueço quem sou, e ao que vim, porque me estranho nestes lugares vazios, nestes terminais de um corpo que se sente perdido numa qualquer errata imaginária. Se fosse um deus menor, viveria às custas de um Deus Maior, contudo, como simples mortal, satisfazem-me as necessidades do corpo e da mente, enquanto me deixam a morrer de fome, outras verdades. 

Gosto desta verdade, quando me afundo, nua, no silêncio que fecunda a noite. Sinto-lhe a frieza nocturna, mas logo me vejo sua companheira de todas as noites. Passo assim, a ser pedra com pedra, noite com noite, mas, dia sem dia. Preciso vencer o medo de me refazer nas madrugadas.

Há um poder imenso que me traz à clara realidade. Será esta que me lembrará quem sou sem ter que sair da minha janela. Dali, avisto as águas paradas do rio, e um mar distante que me trará tudo, a seu tempo. Remedeio-me assim, sem ter que me esforçar, pois a minha sorte não mente e o meu corpo é um poço de prazer aniquilando a dor e perfurando espírito. Chegarei aos níveis superiores, sempre que deitar por terra estas loucuras. Outras ocupam ainda a minha mente, e aguardam uma irrepreensível troca de favores. Posso, e quero ser para lá da minha consciência, um mundo de verdades que me farão ver outras, as quais alcançarão a meta traçada. Tomá-las-ei como parceiras, num mundo que cresce nas mãos do destino, ao cobrir a terra com todas as sementes que fizeram de mim uma pessoa, entre tantas as que se conhecem.

Porque, ontem fui talvez um pingo da chuva, hoje ainda sou uma réstia de sol, assim como à noite, poderei ser um sonho vadio a alimentar a noite. Amanhã serei talvez um fio de vento, a querer levantar a raiz de um pensamento morto. Basta-me a semente, o caule, a flor e talvez uma pétala amarela. Basta-me o arado, e a terra. 
Basta-me o sol a nascer dentro dos teus olhos. Bastas-me tu !

ÔNIX in "A Voz do Silêncio"
(Conteúdo do blogue, ao abrigo dos direitos de autor)

Profecias


Há nos limiares do tempo 
um pendular suspenso que balança…
e eu danço 

Mas o  meu corpo é o reverso 
em  ténue faísca  onde nasce a luz 
uniforme  do meu olhar 

Caminhos  intransponíveis 
neste renascer  
onde o verbo É 
mas deixa de Ser 
quando consente verbalizar
nos limites 
sobre o Cosmos reunificado

- Como abrir os olhos e falar-vos sobre um cometa 
que rasgou a atmosfera  neste leve balançar?

Há um estado de fidalguia nos seus versos
simples melodias esgrimam o ar
mas esta espera…
que sempre me desespera

- Ler-te  no infinito...Poeta do meu altar
é reescrever-me no mesmo lugar
de onde me viste chegar…

Leva-me sempre por novos  trilhos 
que também pisa
e sabe que o meu corpo se espreguiça 
nos seus versos 

Não cansa de me fazer doer
é como sentir a terra a tremer...

- E o frio a encolher-me toda neste corpo preso à vida

Já não posso caminhar sobre o seu ventre
vou fincar-me na extensão breve do tempo
e absorver dele a fina corrente 

Insígnia das utopias de um profeta
que marcou encontro com certas profecias
que sem saber se é poeta
por Profeta ser  
remete-se para a magistral leveza do Ser 
*
Poema em homenagem ao Poeta Filipe Campos Melo (Giraldof)


DM/ÔNIX, in Traços Indeléveis

Luminiscências

Imagino-me em chão aberto
cárcere de um tempo em que me sentia nua
mendigando pelo pão-nosso de um dia só

Abençoado aquele que me oferece as searas
e me ilumina as noites

Abençoado aquele que me esquece
enquanto mendigo o Amor por outros caminhos

Santificadas sejam as vozes
beatificados os corpos que descem à vida
e que esta terra infame me cubra por inteiro
e me reparta em pedaços

Aguardo pelo sol
ou pelo que resta dele, enquanto moribunda no teu olhar

Que seja meu companheiro
de um caminho a Norte
que se submete à sorte de um aconchego a Sul

Que acima de nós, se avistem os astros
que me falem alto de um ponto
em que te encontro

Fiquei muda e quieta
já nada me move deste espaço
onde assento a minha dor
porque te digo que há mais
muito mais a Sul
 além desse mar que nasce no teu colo


ÔNIX  in Traços Indeléveis (N/Editado)
(Conteúdo do blogue ao abrigo dos direitos de autor)

terça-feira, 26 de maio de 2015

Dimensões V - PAZ



Quero-me na tua paz, um sorriso mesmo que distante.
Serei doação perene de sentimentos vivos, a cair na tua boca.

Falas e eu calo.
Andas e eu paro.
Sorris e eu choro.
Cantas e eu blasfemo.
Dormes e eu finjo ter sono nos braços teus.
Sonhas e eu carrego os fardos de sonhos meus.

Porque não vejo as estrelas quando tu vês o céu?
Porque durmo quando viajas sobre um mundo meu?

Seremos um, quando nos ouvirmos no banco dos réus, e as águas nos lavarem os pés cansados das noites em que havia fagulhas no céu.

Afogo-me nesse leito onde deponho as armas, sempre que do meu sonho me levanto, e te procuro nesse mar cansado onde descansas o teu.

Quisera fazer do meu corpo a sonoridade do tempo, para no teu me encontrar quando a morte me vier visitar.
Pudera morrer de mãos postas no vento, amarrá-lo ao meu corpo e levar-te comigo. Ser santidade num olhar que se perdeu.
Quisera ser na tua boca, uma só noite em que sobre nós o inferno desceu.
Pudera castigar-me nos momentos em que fujo de ti, sem saber onde me perdi.
Quisera fazer da sorte que me calhou, uma fogueira no meu corpo, quando da tua boca bebi, e me fiz nascente e poente num sono meu.
Pudera molhar o meu corpo, de doces lembranças nossas quando o rio se escondeu.

Serei a paz que procuro, sempre que no teu corpo encontrares o meu.
Serei a paz que mereço, sempre que na tua boca me levares ao cabo do mundo.
Serei sempre eu, quando de mim arrancar a arte de bem namorar um sonho que se perdeu.

Dimensões IV - Abundância

Se viessem ouvir-me agora, dizia-vos que nem o sol me visitou nesta manhã cinzenta, e nem o céu se aconchegou nos meus olhos. Sei que o irei encontrar debruçado sobre as searas de trigo dourado. Encontrar-me-ei nos seus braços, quando nelas me deitar e a terra me limpar esta dor presente, por não saber onde moram as espigas de uma vida vazia, sem pão.

Quero mesmo que venham todos visitar este meu chão. Tenho flores do campo sobre a mesa, e cachos de uva despidos em toalha bordada à mão. A cerejeira ao fundo do quintal, apresenta-se nua com os seus ramos adelgaçados, depois que um bando de pássaros a visitou. Foi ali que repousaram os seus bicos esfomeados. Migalhas já não são bem-vindas a este chão. As toupeiras esburacaram a terra e levaram as espigas deixadas por engano, ou quiçá, por mera vontade do dono para uma boa distribuição das colheitas. Serão sempre de ano para ano, as visitas subterrâneas, que farão da terra, a revolta do Verão. Nós, por nada sabermos de seus corpos moles, iremos regar a terra e calcar com os pés, os refúgios nos buracos que foram fazendo enquanto dormíamos. Se soubermos a dose certa de um alqueire de milho, saberemos a certa medida da equitativa distribuição e nada nos fará mergulhar nesta amálgama, que é ter terra sem saber cozer o pão. Saberei então dizer-vos porque se foram as cerejas neste início de Verão, assim como se colheram os frutos no fim da estação. Saberemos que na mesa, haverá o vinho escorrendo na taça que vossos olhos afiançaram ser de puro cristal. Serei mosto no seu peito, e alma a lembrar o tempo em que ao relento, absorvia da terra odores fortes das primeiras raízes a crescer na terra húmida. 

(Lembro de um dia morto pela agrura dos tempos, em que o arado rasgava a terra e eu me deitava na terra, à espera que um pé de flor, viesse florir na palma da minha mão)

Foi essa a forma que dei à fome que trazia, quando o vi a caminhar sobre a terra, e dela fizemos o leito resguardado no nosso olhar. Deitámo-nos na maciez quente e lilás de bordados frescos, trazidos pelas aragens quentes da serra, e ali ficámos até ao nascer do sol. Esse círculo de fogo que caiu pela madrugada, esperou que nos honrássemos e nos saciássemos dos novos aromas quentes do Verão. 
Temo que me queira ver vestida, mas eu, nua, disposta a tudo, para saborearmos este manjar dos deuses, enrolei o meu corpo a um manto de linho, pertença única desta mansão. 


Dimensões III - Felicidade

Vivemos um estado de pura apatia. Envolvidos num véu primário, permanecemos numa densidade que nos conduz no caminho da infelicidade. Outras vivências aguardam o tempo certo, para que nos sintamos parte de um mesmo círculo mas com novas formas, que nos indicarão o movimento certo do tempo, ainda que o sentido dos ponteiros do relógio, não refira de que lado se mostra o tempo, o nosso verdadeiro tempo, impedindo a entrada de elementos de um tempo morto, os quais já os sabemos caducos à nascença.

Teremos assim, a criação de novas realidades através da visualização de um conjunto infinito de possibilidades de que somos feitos. Foi para isso que viemos. Para a verdadeira transformação do mundo. Daí que, à semelhança de uma força criadora, nós somos os seus súbditos, para que nada falhe, quando tivermos presente o respeito a ter por cada ser humano, ocupe ele, o lugar que ocupar na sociedade. Este é mais um conjunto infinito de experiências. Através delas iremos decifrar a linha divisória que separa o medo do amor. 
Se por todos os cantos da terra existirem diferenças, cujas distâncias não sejam loucuras, prontas a enfrentar outras loucuras, estaremos a contornar um círculo. Saberemos onde reside o mal; a criação da nossa mente arcaica e desnutrida de tudo o que nos fez na matriz original. Chegar a essa matriz, significa mudar hábitos e pensamentos, ao atingirmos uma outra fase de conhecimento. Assim, ele terá todas as células preparadas para que a mudança ocorra de uma forma leve. Entraremos num novo registo que tão bem conhecemos abandonado à nascença. Saberemos então, onde queremos mesmo ficar. Se numa esfera obliqua, ou se num circulo, onde as forças que temos, se surpreendam umas às outras e se conciliem com o novo tempo. 

Ter presente esta realidade é saber que existe um marco que nos separa de submundos. Daremos um passo em frente, para conseguirmos decifrar a linha que irá formar uma nova dimensão. É nela que viveremos, segundo novos conceitos onde o amor pelo próximo nos mostre que só há um caminho para a felicidade. Esse caminho é a própria felicidade em forma de amor. Será essa, a força residual que nos fará estar em duas ou mais dimensões. 

Resta escolhermos!