segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ultimatum

Debrucei-me sobre as aspas de uma frase oblíqua
Saliente, tosca, disforme mas de cintura fina com um brilho mate
Distante, tão distante estava eu antes dela me reescrever
Fui caminhando sem ver
Fui cessando sem saber

Havia um só tempo para seguir aquela linha inteira
Que me traçava um caminho aposto no meu imaginário

Já não sou eu que quero ser uma frase inteira de um céu sem cor
São elas, as aspas que me fazem ser alguém
Ou nas horas mortas ninguém

Já não sou eu que quero ser uma palavra vã,
Achada por morte sã
Catalogada e alegórica(mente) certa , mas indiscriminada
E sujeita ás mais diversas alterações morfológicas
Resíduos que se despejam nas marés vivas de um desejo traído, cuspido, sujo

Caiu agora desse mastro antigo
Desdita esta sorte mal(dita) em pedaços
Que se entrega à dor das palavras sobrepostas
Viajaram caladas nas costas arqueadas de um marinheiro já morto
Deram um saldo no mar alto e afogaram-se inteiras na linha disposta sobre a mudança das marés
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(Eu na foto, da autoria de José António Antunes)

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