quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Traços Indeléveis


quando os momentos nostálgicos
nos trazem afagos desmedidos
não há temporal que nos abane as estruturas....

*
há sempre um tempo para descansar
no parapeito de uma janela aberta,
e tracejar os sentimentos com tinta indelével..
*

O Amor



peça única que trajamos e não conhecemos,
a não ser quando nos toca e molda a alma
*
aí, veremos em todos os encontros
a luz
a indicar-nos os vários caminhos
que nos conduzem
ao ponto da única verdade

O Amor !


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Puro Mel

Esperava sempre por vós
neste caminhar
pelo mundo das palavras
mas em muitas palavras
nos desencontrámos
enquanto em outras
nos deixávamos levar
sem pensar em mais nada


O Mundo Para Lá de Um Olhar



terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Chá Para Dois? (P/Anamar)

(imagem google - geometria sagrada)
*
Sei que te desnudas para seguires outros destinos
Sei do quanto amas intensamente a vida
Mas tu sabes que jamais ouvirás os sons da alma
Se não amares para lá da vida
E sabes o quanto me refaço para entender os teus sinais

(Mas…
Para quê inverter o destino
Submeter-nos às doces maravilhas do mundo
Se ele sofre no nosso colo
Inanimado
Calado
Ensanguentado
Sucumbindo até num novo alvorecer ?)

Sei-te mais que uma só Mulher
Viajando nos sonhos teus
Para me encontrares nos sonhos meus
Mas olha as várias luas que te abraçam
E o deserto que te suga os poros húmidos
E te realçam a aura límpida
Aglutinada pelos mares de outrora

Há um silêncio esmiuçando a vida
Que dedilhas sempre que olhas o céu
Há um deserto afundado
Nos rios que correm para o mar
E esses já te conhecem
Através de um novo olhar

Bebe deste cálice
O suco que te adoça os lábios
Iguarias trazidas das profundezas dos oceanos
Só para ti

Chá para dois?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Avatar


Já nem sei quem sou
Estou camuflado
Vagueio inerte entre um e outro sonho
No meu corpo ficaram as veias
E um sono dormente associado
Ao meu sangue quente

Abro os olhos
Vislumbro novos caminhos
E sinto este frenético toque no meu peito
É este o mundo inteiro que me viu nascer

Mas…
O outro que passou a barreira do tempo
E se aquietou num outro espaço
E cai moribundo do lado de lá
Sempre que meus olhos
Se abrem do lado de cá?

(Escuto sons
Sinto náuseas,
Tantas aflições
Grilhões nos pés
Já nem sei quem sou)

Tantas dores na lentidão dos meus passos
E esta brisa suave
E esta claridade esvoaçante
Vinda das montanhas
Que flutuam no céu
Alterando-lhe a cor original

Há um fogo inquietante
Para lá deste solo quente
Há outros céus e estrelas cintilantes
E sombras bélicas que caminham sobre o véu

(Céus ! Que magia sofredora
Que invenção
Caiu na minha mão?
Como seguir-te neste amontoado de pétalas brancas
Como alcançar as almas adormecidas
Sementes enriquecidas
Tresmalhadas
E esquartejadas
Pelos gigantes que rasgam o céu?)

Serão outras forças
Invenções
Constelações
Migrações
Avatares pelo mundo
Que Zeus não conheceu
*
(Inspirado no filme Avatar)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Rebanho Multicolor

(Foto tirada por mim, na minha aldeia
*
Abocanham-se
Idolatram-se
Perdem-se
Encontram-se
Mutilam-se
Concretizam-se
E beijam-se
Em frente das multidões

Carentes de um novo mundo
Soerguidos do nada
Que lhes resta
Vão contornando as contas
De um rosário às cores
*
Predestinados os caminhos
Já não vão ser precisos
Tantos sorrisos
Sucumbiram à nascença
Enquanto os rebanhos
Se alimentavam
Dos seus próprios excrementos
E a terra se adubava
E esperava por novos
Povoamentos multicolores

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Predadores


Tenho-os na mira
Será só um amanhã
Ou um hoje que me prende no escuro
Ou serão só versos doentes
Predestinados a ser verdade inteira
Sobre o amor que lhes escorre
Pelos cantos da boca

Predadores que se destinam
A criar desejos
Através da morbidez acutilante nos actos
Que esperam que a noite caia

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sucumbiu Um Alento (P/José António Antunes)

(Imagem Google)
*
Se por um punhado de palavras
te conduzisse pelas terras governadas
pelos navegantes dos mares
elas, as terras seriam mais recatadas
quando da força dos ventos
e deixariam de ser trocadas
por uma qualquer maré negra
arremessada por um qualquer
pé de vento


Se por um acaso me esquecer de ti
à porta de um moinho ao relento
e através da força motriz
me entregar à brisa quente
não fui que me fui


Sucumbiu um alento
*
Agradeço a inspiração num outro de José Antunes aqui:
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=16895&com_id=63082&com_rootid=63082&com_mode=thread&#comment63082

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Trilhos (P/Vânia Lopez)

(Imagem google)
*
Talhados pelas mãos do destino
ou por quem nos molda os dias
em jeito de sina
breve, muito breve
consente-se no triunfo
enquanto a noite é menina
e os dias passam desnorteados

Sem eira nem beira
acostumados a serem um só
nos trilhos pensados
ficam sós nos telhados das casas
enquanto a noite adormece no teu sorriso
*
Agradeço â Vânia pela inspiração aqui:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=108699

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Desejos Eruditos (P/Vony Ferreira)


Começa a ser já uma sorte sã
Esta ligação às palavras
Findo este tempo há um começar de novo
Com novos temas e novos versos declamados
E aclamados aos quatro cantos do mundo

Caminhamos sempre no sentido inverso,
Àquele que nos é mostrado no decorrer dos dias
E somos sempre figuras abstractas
Lentas no deslizar das horas
E há um verso ameno que nos afaga a alma
E um poema inteiro na multiplicação dos dias

São sentimentos que brotam do peito
Como cultura fértil adubada pelos olhares
De um mundo que vive de memórias
De farrapos gastos nas noites frias
Encostados aos muros de uma cidade em festa

Sei que me vestes a pele de canduras finas
Mas também sei que me queres perto
Tão perto como os teus olhos estão da tua visão do futuro
Que se encosta sempre aos tempos idos
Que de uma forma ou de outra é leve, muito leve

Não sei já decifrar o que me tem presa a ti
Se este fardo antigo que viaja comigo
Ou se um presente ilusório e castrador
Renegando a força que me pesa nos ombros
De te ser um desejo subtraído à dor que carrego

Mas sei também que te quero muito
Neste vai-e-vem cantarolado nas noites
Em que te dispões a ler-me
E a sentir-me na agitação das minhas palavras
Sou eu neste desassossego inteiro sempre que amo

E amo…
Sempre que a minha alma sente
Que fazes das minhas palavras as tuas palavras
Na construção de um mundo novo
Onde sou mulher fora de tempo
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=109127

domingo, 29 de novembro de 2009

Viagens

(Imagem de Jet do site Olhares)
*
Misturei-me
Nos ventos tardios
Subi tímida
Às cascatas
Dos teus olhos
Revisitados
Pelas nortadas densas
E povoados raros

Cantei-te poemas
E adormeci na tua boca
Quente…luxuriante
E revi-me nua
Em outros tempos mortos
Nas masmorras do tempo

Visto-me de outras eras
Na longitude da luz
Sou reflexos mistos
Silhuetas uniformes
E perpetuo-me sempre
Que m’adentro
No teu ego ferido


Contigo sou todos os nomes
Que conheço
E até aqueles
Que me abraçam
Sem idade
E quero…quero muito
Que me leves
No teu mar
Em noite secas
Que transformarei
Em mil pedaços
Para te mostrar a vida
E o amor que ainda
Vive em mim

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Mas Eu, Já Sem Vontade


Mas eu…
Custa-me tanto ver-te
Nesse estado anémico
Absorvendo o vento
E o que ele te traz

Talvez seja
Uma carta aberta
Ao destino
Ou um sabor da vida
Como sempre faz

Ou então será outra dor
Que deu á costa
Costumeira
A cair-te nos braços
E em teus versos se refaz

E eu, já sem vontade alguma
De te ver nessa luta diária
Errando os passos
Dedilhando notas soltas
E parafraseando o tempo
Há muito tempo atrás

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vem Caminhar Comigo


Quero ouvir-te em histórias antigas, mas cantadas nos telhados das novas casas, a abafar o bolor característico dos espaços fechados. Por isso, me dou às cegas pelas pradarias longínquas, onde há ecos mudos e um sol que nasce sempre que a noite é finita. Só aí, há um cântico aberto ao mundo que me escuta e que sustenta as lágrimas que se despenham nas minhas mãos. Há um misto de saudade que se esvai por entre os dedos semi-abertos e não sei já falar, desta dor que me consome o peito, quando me dou inteira a ti.

Sôfrega do mar, fugi para longe, e dirigi-me para sul. Lá os sonhos são mais azuis e as gentes vivem na calmaria de desejos mais ou menos cristalizados. Sofrem as dores de parto antes do tempo, e as forças benignas trazem cantares longínquos de outras eras, em que os registos passaram de mera informação, para uma profunda constatação dos factos reais, em que o equilíbrio, não passa já, de manufactura do acaso.

Afundei-me nesse mar que vi!

Mas, sofro neste silêncio amarfanhado, sempre que o fardo dos anos me deixa morta de cansaço e desprendo-me das horas todas, em completo desleixo. Caminho agora sem destino, e há um som perdido que me encontra sobre esta medida exacta, que é o mundo no sossego das minhas mãos. Ele diz-me sempre como chegar ao topo, mas lá, há estrelas cadentes que se esfregam nos meus olhos, e a cegueira traz-me imagens doentes de quando o mundo sofria. Sofria tanto, que até os olhares que carrego me abominam em cada círculo, geometricamente traçado à roda dos meus olhos.

Triste sina!

É fria a sua voz, e caminha cansado do destino que lhe coube á sorte. Há sortes assim! A minha ainda não foi lançada, para que no meu ventre, encontre a essência desmesurada e te entregue a noite assim, cansada de mim e do nada que fui, enquanto dormias. Assim, vou deslizando, lenta, mas caminhante, através destes movimentos obtusos, e paralisados através do medo que me rouba o sono. Os candeeiros apagam-se, e a noite finda, volta ao seu estado original. Há um protótipo do vazio esperando por nós, e na matriz, jaz o cálice da vida que carrego há tantos anos.

Quero-te muito, mas não suporto este fardo antigo. Vem caminhar comigo

Sou Alma em Ti

(Pintura de Jomasipe)


Se estivesses mais perto do mar
Verias o ar que encerra a noite
Quando os teus olhos
Mergulham na escuridão
E um rio que espera em vão…

Há um sonho a tender para o infinito
E um corpo estendido na areia
Há uma brisa suave
Arremessada pelo vento
A adormecer no horizonte

A espuma salgada
Molha-me os pés descalços
E o azul do mar pinta-me magro rosto
E eu, em outro tempo,
Um corpo só no teu regaço

Agora, há outra força que caminha
Há a maré desvinculada
Deste mar que me veste a pele
Sou alma, sou fé no cais,
Estou perto de ti

Libertei-me de mim. Sofri!
Por reter passagens breves
Mas muito leves deste mar
Onde nasci e vivi
Quase adormecida no convés, sem ti!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Amor meu...

Dormir sem parar
E acordar nos teus sonhos
Conseguir distinguir nas nuvens
Letras tuas
Sonhos meus

Lembranças de um passado
Em que acordar
Era pensar-Te
E ouvir-Te
E sentir-Te

Amor meu…

SEI LÁ



Sei lá...
Porque a dor é assim
Delinquente
A assomar-se nos caminhos
A quebrar todas as regras
Saudação em pedra dura
Natural (mente)
É casta doce, madura
Em sangue quente
E o meu corpo frio
É Indigente
Mas consente
Nos caminhos ancestrais
A queda pura

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma Face Minha, Um Toque Teu (dueto c/Jomasipe)


Há um mar longínquo nos meus olhos,
e uma areia infinita nas lágrimas molhadas,
um amor cansado, quente, amanhecido tarde,
uma vontade que ama,
me alimenta,
me junta a ti,
na incandescência das marés revoltas em dias de temporal...

Há uma triste sina envolta em dias cinza
Uma cidade que me ama e me deseja
Sempre que ao virar da esquina
Te encontro nesse mar que caminha
Por entre os escombros do meu leito morno
Quantos caminhos percorro até chegar a ti
E no horizonte há um olhar que anoitece

Há um caminho oculto, nas moradas abandonadas,
um mar envolto em chamas,
uma nebulosa, ofusca no céu molhado,
uma cálida manhã de Primavera,
uma face minha, um toque teu.
Há uma mão tua em mim,
que não me larga e que me abrasa.

Há sempre a livre vontade de ir mais longe
Há nas nossas mãos letras pequenas, benfazejas
De quando era uma triste menina
A acordar nos teus olhos
E fui-Te mar cansado, obra minha
Ter-te em cima como em baixo
Será o remanescer calado no meu ventre continuado

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cansaço

Sinto-me cansada de tudo
O que à minha volta mexe
É algo que adormece
Em poemas inacabados
E nas incertezas
Há a inércia do tempo

Sinto-me vazia de ti
De mim
De nós
Enfim cansada
Daquilo que mexe

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Mundo para lá dos espelhos


Ficaste parado, como por encanto enquanto eu passava por ti. Nada disseste e eu nada fiz para te tirar dessa espécie de letargia em que te encontras.
Sabes como passo as noites?
Lembrando e reconstituindo cenas, descodificando os teus sinais. Passearam-se pelo véu que me cobria o corpo, sentia-o leve, muito leve e a maciez bailava no meu corpo que se encontrava lado-a-lado com as estrelas esvaídas a nossos pés. Lembro-me bem do teu sorriso, sempre que me aconchegava num manto dourado que me conduzia sempre para o mundo para lá dos espelhos. Reflexos de um mundo onde coabitava a dor entre os escombros. Há um perigo eminente em cada esquina dobrada, em cada mácula disfarçada, em cada momento calado, em cada corpo mal amado e em cada rosto mal tratado. Já nem o nada me aceita nestes submundos onde habita a minha alma disfarçada, mas há nesta cidade, um caminho íngreme que se põe sempre a descoberto. È só aprender a escalar montanhas, e a facilidade com que o dobramos é aos olhos de mundo pintura abstracta, em rostos sem nome.

Tento que a minha sede seja saciada, quando te encontrar nesses recantos onde dormes há já tantos anos passados. Não me lembro de nada que me faça voltar a temer por gestos inconsequentes, quando ainda era só centelha vazia no fundo da tua alma. Foi ela que me lembrou que saí deste ventre imaculado. Sabes que há certezas que nos alimentam esta vontade de ir ao fundo, e estes submundos acorrentados já me acolheram em tantos voos, que mesmo sem vontade, deambulo sem destino. A luz que me alumiava o caminho está frouxa e eu não sei como abrir as portas à luz que amortece no meu olhar. Se quisesses seríamos a lucidez e paralelamente alguma certeza de cairmos nos braços de uma noite só nossa. Crescem-me nas mãos as flores que pisaste, quando interrompeste o nosso destino e há caminhos soltos na aridez das fragas soltas que se cobrem de gotículas roxas que carregas nesse fardo leve.

Há nesta cidade uma cegueira enfileirada lá para os lados da nascente. Eu, aqui me encontro ensaiando as dores do desejo que por ti escorre.
Jaz no meu corpo.
Quase sempre saio á rua para sentir esta combustão que arrasto nas pupilas dos meus olhos
(Divino Pintor -Óleo S/Tela)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Náufragos (p/Joma sipe)



Jamais te evadirás deste jardim. Há sementes largadas neste chão que piso e na limpidez das águas, há um esboço de ti que anseia pelo novo clarear do mundo.
Nos sonhos que percorro, há uma fonte inesgotável que jamais secará enquanto estiveres por perto. Sei-Te nessa imensidão, onde os momentos são eternos e há planícies inteiras à espera do sol do verão....

(Recomeço sempre que te ouço chegar)

Continuo desbravando o Sol intenso do teu olhar. Fecundei-o no meu peito, em dias sem sol no mar. Há neste caminhar, um encontro que se avizinha numa imensidão de vastas planícies que emergem para lá do firmamento. Caminho sempre rumo à liberdade do Ser e entre as férteis searas relembro sempre o teu rosto magro, enfeitando os meus dias. Há na luz que me alumia, um pacto trazido pelas estrelas que caíram um dia.

(Lembras quando foi que nos beijaram e nos conduziram para sul?)

Ficaram os ornamentos e partiram os desejos de ti em mim. Porque será que secaram todas as rosas que plantei nesse jardim? Porque me tomas desse jeito anémico se sou já a fuga nos caminhos que trilhamos? Há na candura da minha alma, um apagão...Já nada se move e nem as folhas secas no fim do verão...Sou só brisa que abraças...

Há em cada palavra tua, a respiração certa para te afirmares na força das marés, nesse encontro que te espera no lusco-fusco...Semeias a luz por onde passas; em cada sílaba, em cada verbo, em cada sol posto, e até na ausência de luz, esse teu cansaço reluz.
(Saúda-te daqui, este divino presente em mim e em ti)
Uma presença sempre presente nas noites em que os fantasmas te invadem e te dizem como deverás cair nas malhas da uma singela paixão. É onde tudo se mostra quando da unificação dos Deuses, e tu calas paixões que te assolam a cada instante...
Toma-me neste abraço, partilhando comigo as noites que velam por todos os náufragos. Há vidas por descobrir nas luzes da ribalta, mas dessas já te esqueceste porque existes na tua própria luz. É nela que me encontro, sempre que habito um lugar disforme na terra que me viu nascer antes do tempo. Tenro de idade e de vidas deixadas noutras eras, te volveste interno ao ventre que te viu crescer. Diz-me de ti nesse mar profundo onde habitas que te quero encontrar para lá de mim. Dá-me só um sinal, que me quero ver no teu corpo a caminhar por sobre as vestes que carregas. Serei amante interna do teu querer renascer de novo...
*****************************
Agradeço a inspiração deste texto a Joma sipe, aqui:

Aguardo que te acomodes nos meus olhos


...Lembro o dia em que caí na noite e dormi sem parar. Já nada me satisfaz, se não caminhares comigo. Persigo-te mas não deixo de ouvir os sons que dormitam neste rua deserta, que são quase sempre, sons diversos trazidos pelos ventos do norte. Sons que se diluem na penumbra dos dias, e os meus olhos acabam sempre por cair na densidade de um sonho perdido.

A cidade que se esconde sempre nas noites frias de inverno, deixa-me neste estado de encantamento, e eu sem saber como fugir desta encruzilhada, caminho sem destino ao encontro do outro lado do mundo, e aí, lembro-me sempre do teu sorriso e das lágrimas que me caiam sacudidas pelas marés. Fico sempre com um medo terrível de não chegar a tempo de te ver caminhar sobre os meus sonhos, e de não sentir o toque das tuas mãos a afagar o meu corpo ardente.

(Estas sensações que se querem nuas, sempre que os teus olhos se cruzam na atmosfera, esperando a formação de outros caminhos a descoberto).

Serão eles que me levarão a ver as várias faces do teu mundo, aquele que nunca pressenti que existisse, se não fossem as tuas mãos estendidas e carregadas de afectos que saciaram a minha sede de te beijar. Se pudesses levar-me contigo, seriam eternos os nossos passos e eu abraçava todas as manhãs, esse delicioso néctar da vida, que é sentir-te escorrer em gotas perdidas na minha boca. Abre-se na certeza de te acolher esse gosto a maresia, esse sol posto sempre que no meu peito há o toque dos teus lábios mornos da cor do teu desejo. Já nada me surpreende, se tomares de assalto este caminho que piso e te esvaíres no meu próprio sonho. Servir-te-á para acrescentares aos teus passos mais um sonho morto pelos teus próprios pés, e eu, ficarei na divisão do tempo, à espera que novos caminhos se convertam em novos ideais. No entanto, asseguro-te que aguardo que te acomodes nos meus olhos. Serão eles que te conduzirão na abertura dos sonhos colados ao teu corpo, enquanto te perdes por caminhos imprecisos, arrastados pelas marés...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Encontros


Existem rostos deformados, díspares ao longo dos caminhos.
Serão eles que nos ligarão á nova terra onde se misturam todos os olhares trancados, todas as bocas famintas, todos os abraços maculados... Escondem-se nesse ermo onde existes só, porque te excluíste deste círculo, onde guardo todos os teus sorrisos. Há pelo menos duas condições para os encontrar e os encostar ao silêncio do meu corpo;
uma será sempre nos segredos guardados na toca do mundo,
a outra será sempre num olhar esquecido na penumbra da noite.

Mal amanhados, os feixes de luz que carrego nos ombros. Deixei-os deslizar por entre os meus braços nus e tu conseguiste alcançar a terra infame, onde os habitantes se perderam da chama crescente.
Seria assim que nos veria neste novo encontro;
tu continuarias pena leve voando no Universo,
eu seria quase sempre eco perdido na aridez montanhosa, grito confuso nos adornos quentes do teu leito.
Os sons ecoam livres à passagem da aurora. Tu e eu alcançamos os diferentes enigmas que deslizam pelas cores imaculadas.

Coitados, se nem costumam dançar a par com as estrelas

Os Nossos Olhares Tocam-se na Força do Ventos (Dueto com Jomasipe)


Uma longa manhã desperta nas pradarias próximas,
arranco-te dos sepulcros e aprisiono-te a mim,
gelo-me por dentro, silencio a dor,
ceifo as amarras ocultas e misturo-me contigo.
Acalento as brasas nos portais do espírito,
trespasso as colunas no templo interior.
Dou-me com os ciprestes e as aves selvagens,
dou-me contigo, numa miragem de fogo eterno.


Avisto-te ao longe e finjo ser outra !
Oferto-te a nudez plena da minha consciência,
na purificação da minha alma,
desprendo-me de mim
e arrumo a bagagem pesada que carrego.
À transparência me denuncio
na minha demência.
São eternos os gestos que gastei no templo.
Os nossos olhares tocam-se na força dos ventos.
Foi lá que gastei todas as imundices trajadas,
no rigor dos tempos,
e estou a um passo de me trair contigo.


Cansei-me dos olhares calados e moribundos,
ardi nos lampejos nublados, crepúsculos inocentes.
Para que serve a chama alada, a purificadora da manhã,
incensário abandonado, fumos que já não se sentem?
Cantei-me a mim mesmo para afugentar o silêncio,
busquei-te nos bosques penetrados no fim da tarde,
Vem, sacia a minha boca com frutos doces,
dá-me do teu mel, cultivado nas colmeias em ti.


Caminho em teu rosto curvado!
Vê como se alonga este meu passo na divisão dos medos.
Se soubesses como quero penetrar na tua boca quente,
desprender-me desta teia amargurada…
Há doçura estendida nos lagares da minha casa
e beijos calados no meu regaço
Mas é na imensidão do teu colo que me abro a ti
Sou gruta aberta nesse mar calado

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Versos Nus...

Serão sempre as tristezas
Envoltas num manto leve de poesia
Que me farão escrever...
Sobre a alegria
Mergulhada na penumbra dos dias

Serão sempre os rostos caídos
Em mortalhas saciadas
Da fome de corpos sãos
E da sede de bocas loucas
Que me farão escrever
Um conto em teu corpo

Serão cânticos na noite
Versos nus na tua boca quente
Flores perfumadas
Em jardins inventados
Serão sempre feitiços quebrados

E nós seremos uma só palavra
A brotar da terra
Raízes secas no calor
De bocas adormecidas
Até à chegada da primavera

Afagos


Sentir que cabem nos meus olhos
Lágrimas correntes
Orvalhadas
Dissecadas
Disseminadas
E eu sem um poema
Para tas descrever…

São como os gestos gastos
No silêncio das palavras
São veios carregados de suor
De corpos sofridos
Da dor do amor
Que nunca foi
Senão uma fonte
De gotículas em cascata
Pelo mundo dos meus sonhos

Loucura é saber dizer o que não quero
É escrever-te versos
Que te mentem
E te sangram por dentro
Loucura é caminhar no tempo
Em que as palavras eram ternas
Afagos soltos pela manhã

Ameniza este sentir
Este corpo que sente
Que nas palavras há tanto
Mas tanto medo
Que se revezam sempre
Nas noites em segredo

Escrevo-te agora
Neste bailado acrobático
Onde as palavras ganham formas
É Ser EU e TU
Sempre que às portas da morte
Nos encontramos
E ainda assim sorrimos…

Unificação


Contigo serei mais um quadrante inteiro
No universo translúcido…

À imagem de ti serei unificação
Nos ecos do tempo
Trarei a paz recolhida
Nas minhas mãos em sangue
E perder-me-ei nas sombras
Da inexistência

Mas serei sempre
Na transparência dos dias
E nas chamas
De um sol resplandecente
Uma só imagem
Na corrente que passa

Vês-me daí?
Desse céu, desse mar,
Terráqueo num movimento circular
Ouves-me no meu lento caminhar?

O Manto dos Deuses


Caminho sempre nos degraus que se sobrepõem no dorso dos Deuses. Foram eles que me ajudaram a compreender esta latitude morna, este desconforto silencioso onde me estendo à noite, sempre que me deito sobre amores perdidos e acorrentados nos tons acobreados da minha mente. Men(t)iria se não te dissesse que a minha face se dispõe ao toque dos teus lábios que quero junto ao gosto frutuoso da minha boca quente. Consinto nesse toque, exalando perfume por todos os poros da minha pele. Estarás pronto para o acolher nas tuas mãos? Seriam rosas para o senhor de todos os mundos que conheço. São mundos internos a desbravar, testemunhos soltos, vozes a murmurar, cânticos silenciosos onde a noite também adormece e se esquece de que amar, é descobrir-se nas sonâmbulas sombras e caminhar sobre os corpos adornados numa noite solitária.Uivam os ventos tardios, salivam as bocas quentes, esquentam-se os rumores do rio e nas correntes tardias, transportam-se milénios de mundos tristes, tal como o meu sorriso agora que te lembra na longevidade do tempo.

Tenho sede e fome de ti!

Matar estas necessidades básicas, é sentir na comunhão da alma que já nada sobrevive, se cair sobre a terra esta paixão que me queima por dentro. Matar a sede com absinto, é uma constatação de que a alma é uma guerreira libertadora dos prazeres comungados na dor e na exaltação de um corpo coberto com o manto dos Deuses.

Há no silêncio da noite um som que se esmera e se enquadra neste olhar perdido. Fui ver-te passar de longe mas não viste o meu abraço envolto num xaile de seda pura. Assim são os braços que te acolhem sempre que há momentos esquecidos de nós nestes becos escuros, nesta cidade fantasma.

Olhares Cativos


Reencontrei-me no teu corpo
E reinventei-me na tua face
No tempo em que adormecia
Num sorriso teu
Outros houve em que chorei
Por um único tempo
Nos teus braços

Afaga a minh’alma
Que m’adentro no mar alto
Ao encontro de um Deus Maior
Que exalte os náufragos
De tempos consagrados
Que nas marés baixas
Há olhares cativos

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Decadência

Abomino-te alma impura
E decadente
Por nascer na minha fonte
Essa sede rarefeita
Que caminha
Em meus seios imortais

No olhar…
A fome de quem beija
E de quem dorme
E um lamento
À chegada de outras eras
E outros ais

Enlaço-me no teu sonho
Porque sofro nesta estrada infame
Onde caiu a desgraça
E se tolheu de dor
Por ser um só nome
Entre iguais

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Não Morras Já

Há na morte um caminhar para a vida mesmo que essa mesma vida seja feita de pedaços...sofridos. Vivo renovando as espécies que há em mim, desde que me sinto parte deste mundo nos momentos imprecisos. O sonho foi-se com o passar do tempo, num só tempo de vertigens. Caí no mesmo erro em que caem todos os passos certeiros na direcção incerta de um mesmo passo desmedido. Querendo, somos todos iguais, apesar das diferenças que nos pesam nos caminhos que se alongam nesta terra, neste mar e neste céu.

Caminho sem olhar para trás. A minha sombra quedou-se na penumbra deste silêncio corcunda, que desliza por sobre os telhados partidos das casas. Mesmo assim, de lá, consigo ver uma nesga do céu que se encolhe em meus braços, e me levanta das mãos os estilhaços ainda em sangue das vidraças que partiram e rasgaram a minha pele sofrida. Continuo esta senda na humidade da noite que é tão longa nesta praça.

(Queria tanto oferecer-te um sonho daqueles que nunca ninguém viu, mas todo o mundo já sentiu)

Ouves os meus passos ? Caminham certos mas sem retorno, nem fadiga de tanto desconsolo neste chão. Espero por ti. Não morras já que me quero ver nos teus braços enlaçada. Quero comer do fruto maduro, rebolar-me no teu peito, e sobre a terra, estender o meu corpo nu, ao encontro e um sol nascente. Cavo todos os torrões, até encontrar a semente que lancei, quando ainda éramos loucos por sargaços e enseadas neste acentuado cume.

(Farei rolar sobre a terra todos os sóis esquecidos no meu olhar e as casas voltarão a abrir as portas ao teu sorriso)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Calem-se as Vozes


Invertam-se as palavras
E construam-se novos temas
Em terra fértil de sonhos

Calem-se as vozes
E continuem a dobrar-se os sinos
Tolhidos das igrejas

(Sabem quando foi a última vez
Que tocaram às almas?)
Eu estava lá e ouvi !

A terra tremeu de frio
A vontade foi de fio a pavio
Maresia solta
E eu acolhi-te à minha mesa

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Coisas Outras, Sonhos Muitos


Fadados os sonhos que se soltam
Das entranhas de quem ama
E se desnuda
Arrancando das mortalhas
Outros voos
Outras sortes

E os malfadados anseios
De quem não sabe
Que a sensatez é suave
Mas pobre a mesquinhez
Que se encontre
Nas palmas de suas mãos
Em outros escritos
Outros motes

Desliza no meu corpo
Brisa suave
Dando forma aos actos
Mitos de outros fins
Na loucura outras bocas
Abocanham insaciáveis
Outros choros retardados

E o verão que não chega
Pra lavrar a terra
Onde semeei a utópica realidade
De coisas outras
De sonhos muitos
Por mim esperados

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Rostos Sem Nome

( Imagem Google)

Já não sei que faço nestes caminhos cruzados. Impera um silêncio mais que balizado contra os muros da minha cidade. Aqui há marcas de nós que anunciam a chegada de invernos tenebrosos. São eles que nos lembram dos caminhos que temos ainda que percorrer até concluirmos um processo que nos fará nascer de novo do mesmo ventre. Cairão por sobre a terra, todos os estigmas afundados no deserto, quando ainda não sabíamos onde iríamos depositar os olhares nocivos de um verão quente e abrasador.

(Esquece quem sou. Encontro-me já no limite imposto por ti na roda da vida.)

Há sinais continuados numa rua deserta e um olhar perdido à procura de um rosto sem nome. A esta distância já nem se vêem os holofotes que se dispuseram a alumiar os nossos passos. Sempre que os nossos caminhos se encontrarem, haverá de ser à chegada da primavera, numa sequência de imagens soltas, pinceladas com as cores índigo em noites brilhantes de lua cheia. Acerquei-me destes tempos em que meus olhos foram retendo as lágrimas por ti saciadas. Sofri por nós neste registo afundado, e tu nem deste por nada, tal era o mar revolto em teu corpo amaldiçoado.

(Até conseguir ter colada à minha, a tua mão, há um novo limite de tempo).

Somos um só corpo e um olhar desfocado no horizonte. Lá, chegaram já todas as estrelas, mas o mar continua parado à espera do encontro final. Tu não sabes para onde vou sempre que me encontro acompanhada, e eu, opto por ficar sentada, esperando que um fio da noite me ligue a um outro ponto desta cidade.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

À Flor Da Pele


Foto de Grace Olsson (http://www.olhares.com/)

Semeias no meu corpo nu
Um gosto amargo
Embevecido
Em lábios fartos
E odores lascivos

À flor da pele
Floresce um sorriso cru
Triste este sabor
Que s'entorna
Na minha boca quente

Velo por nós
Nestes caminhos só nossos
E encontro-te sempre
Que a céu aberto
Se solta um sorriso fértil
De aromas

domingo, 4 de outubro de 2009

Só Palavras

Palavras sem retorno
Palavras que se esvaem
Na profundidade
De um verso ritmado
Onde o poema se dita
Em plena consciência
De quem sente
E sabe que simplesmente
Serão eterna(mente)
Só palavras

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Os Deuses e Eu

Os Deuses acabaram
De me deixar louca
Louca de cansaço
E de tanta confusão
Em versos meus
E loucuras que tais
Pelos doces madrigais
*
Os Deuses acabaram
Com esta loucura
De ser só um mito
E no desenlace
Lembraram à lua
Em versos que tais
Que o mundo marcou
Os sonhos desiguais

A Voz do Silêncio

Enquanto o meu corpo se enrolava na noite por entre os lençóis, desciam na madrugada gotículas de orvalho miudinhas, e sem grande ruído, alcançavam as ruas desta triste cidade. É nas noites de insónia, que ouço com mais clareza os sons que me chegam, trazidos pelas brisas outonais. Esta é a voz primordial, que me conduz por becos onde já nada acontece, a não ser alguns pingos de luar, a descansar ao relento nesta manhã de fim de verão.
(Não há como permanecer acordada durante a noite e viajar ao encontro do fado, que de tão cansado, adormece num canto enjeitado)
Até os muros adormecem, ouvindo este cântico negro! O trajecto matinal é contínuo e vai quase sempre ao encontro do sol nado e criado nas correntes que o Tejo abraça. Têm sempre um destino traçado. Fiz um acordo com o acobreado do rio, de sermos um par acordado e vigilante na noite. Um olhar preso a esta maravilha que é acordar para o mundo. Vejo-te todas as manhãs, neste meu trajecto, mas tu não sabes os caminhos que tenho que percorrer para chegar a ti. Outros olhares misturam-se nesta confusão de gritos ocultos nas madrugadas, que sou como uma dessas gotas de orvalho, adormecida na relva tosca de um relvado abandonado. Careço de mais um pouco de sol, para me desprender desta pétala esverdeada. A sua cor desvanece-se nas pedras da caçada.
(Tanto muro, quanto betão. Tanto chão, quanto ruído e eu sei saber dizer não a este sol que me atrofia a visão.)
Há no silêncio da noite um olhar fecundo nos caminhos onde morou a ilusão. Fruto de alguma emoção, foram-se as palavras que contaram sobre histórias de rostos sem nome. Vagueiam sonâmbulas por cada canto Já sem qualquer pingo e razão.
Ouves a minha voz? Ao menos sentes que se distancia destes muros de betão, para te contar de uma noite, onde me mantive acordada, por saber que estavas abandonado num qualquer chão?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Cegueira (ensaio)

São lentos os meus passos nesta manhã de Outono. Não sei já decifrar, se o sol que vejo reflectido nas águas do rio nasceu hoje, ou o que ficou esquecido na berma da estrada. Nesta confusão, antevejo um sentido desnorteado, concomitante com um pensamento ancorado nas varandas de outras cidades. Abriram-se à corrente que passa e eu fiquei do lado de fora. Gritei e ninguém ouviu. Será que não me vêem nesta rua? É uma rua deserta e sem nome, eu sei, mas continua a ser a nossa rua.

Sempre por aqui passei e lhes acenei. Quanto desespero por aqui encontrei!

Caminho sem destino, já ninguém me vê. Existirei à transparência como a agua que passa? As chuvas chegaram mais cedo anunciando mudanças de estação. Quero encontrar o fio condutor desta estrada, mas a poeira acumulada, já limpou todos os trilhos que me levavam ao encontro de um poiso certo do outro lado da cidade. Neste caminho, algo me leva a concluir que já não mora aqui ninguém. As águas pardacentas carregam novos detritos, que não enxergo quase nada.

Estão lamacentos os meus olhos!

Atravessaram todos para a outra margem. Os vultos que passam são só meros portadores da nova desgraça que assolou esta cidade. Fingem que nada se passa por não saberem fugir ao esquecimento.

Darão guarida à cegueira que os abraça?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Miragem

Insisto neste baloiçar.
Gosto de sentir esta adrenalina no corpo, de te saber um único caminho na poeira da estrada.

Foi apenas miragem que passou, e já não temo por quase nada. Voltei a mim no dia em que partiste e fui só um dia, lágrimas no teu rosto. Nem sabes as cores que contêm quando se entregam a troco de nada. Foi talvez uma pincelada de ar fresco que na manhã desceu sobre o rio e me afogou esta mazela engasgada.

Subi ao cimo do monte e só vi uma estrela acorrentada pelas marés vivas. Avivam-me a memória sempre que me tocam as pontas dos pés e me levantam de pé sem mais nada. As vestes já foram rasgadas, o corpo amoleceu com a tua chegada, e tu contaste as bravuras que alcançaste nessa estrada. Já foi minha um dia, mas lembro agora, que quando partiste, fui só eu que me lembrei da tua morada.

Desapego

Aguardo por um fim translúcido
Erguer-me-ei das sombras
Encerrando-me por fim
Num vazio igualitário
Onde mora a minha alma
*
Deixem-me neste rio corrente
Abandonem-me á minha sorte
Que a morte chega já
E eu quero estar lá
E contar-lhe em segredo
Quem eu sou…
*
Digo-lhe do mundo
Conto-lhe de mim
Em novas histórias
Que se mostram afins
Na terra prometida
Onde morri já
A léguas de ti

domingo, 27 de setembro de 2009

Cidade Fantasma

Os sons da noite trazem segredos que nunca ninguém ouviu. Sou uma privilegiada nesta noite inquieta, e enamorada das vozes e deste ruído infernal. É a passagem das horas na incerteza de alcançar o próximo apeadeiro. O ruído estende-se na berma da estrada, e o vento suave deixa um fio muito ligeiro na minha pele. Do meu cabelo negro, solta-se um brilho clareador nesta madrugada. É da densa névoa que paira sobre o rio. Remendei a estrada para poder passar livre e alegremente sem ter que pedir licença aos transeuntes, mas mesmo assim, não vi que essa mesma estrada, já tinha sido tocada por momentos que já não sabem o que são, nem são o que sabem. Deverão ser só almas que vagueiam sem destino.

Há um uma voz solicita em silêncio. Nessa direcção uma outra a alcança numa fracção de segundos, e há também olhares que se trocam em cumplicidades loucas entregues à brisa que passa. Assim me detenho perante este olhar que se foca no meu rosto, sem deixar de passar pelo meu cabelo. Se ele tiver a cor do meu olhar decerto será uma cor neutra, quase a tocar no vazio. Assim estão os meus olhos indiferentes ao movimento da cidade. Há nesta mudez uma calma inventada, porque ao longe, ouve-se o ruído dos carros que passam - audível mesmo estando eu neste estado semi-anestesiado, pelo embate violento a que me sujeitei, nesta suave brisa da madrugada. Ao longe, os barcos anunciam largada, e as luzes deixam na corrente um colorido enfeitiçado. Sobre os meus ombros há um toque gelado que é coberto com o rescaldo da noite. Maciez quente a exalar-me os sentidos. Etéreos gestos tão firmes e delicados.

(Perdi-me no teu sorriso e nos sinais de brancura com que pintas as cores da noite)

Caminho sem destino, mas acordado o sol, terei que adormecer no seu regaço. Guardo o teu olhar no meu corpo, registei o teu sorriso e o carrossel que inventaste para me mostrar as voltas que demos, ainda anda às voltas sem parar. Mesmo que eu o queira fazer rodar no sentido contrário aos ponteiros do relógio, é impossível. Tu estás lá para me travar e me ensinar como se habita um olhar esquecido numa cidade fantasma.

Viagem


Bati à porta errada
Já aqui não mora ninguém
Que me possa levar
Nesta viagem
Até à outra margem

Fecharam-me este abrigo
Levaram consigo
Todos os pertences
E deixaram comigo
Só alguns grãos de trigo

Se quisessem
Podia falar-lhes
Do vento que passa,
E do fumo que abraça
Mas nunca de nós
Na mesma barcaça

Agora há só fumaça
Que alegremente esvoaça
Há um timbre afinado
E um pasto aberto
À água que passa

sábado, 26 de setembro de 2009

Cantar de Amigo

Nada sei do tempo
À conversa comigo
Sobre um sonho antigo
Imaginei-o sempre
Em outro tempo
À conversa contigo
*
Sabes que há movimentos
Que dou ao corpo
Que me parecem ser
Rituais perdidos
Ou bailados
Em palcos esquecidos?
*
Incertos são os passos
Neste caminho
Há um perigo iminente
Sempre que penso
Como pedir ao tempo
Um cantar de amigo

Almas Penadas

(foto de minha autoria em Castro Daire)
Há neste silêncio uma voz apagada, mas continuo a ouvir os sons que me chegam do outro lado. Caminham já na minha direcção. Se me focar no ponto de onde vim, há a certeza de ser um silêncio guardado, que me segue num caminho inverso, contrariamente aquilo que fui no passado. Sou eu e tu quando nos olharmos no espelho, e conseguirmos tocar ao de leve na imagem reflectida. Aí ouviremos as nossas vozes mesmo que isentas de som ao encontro com outras que correm no tempo, e não param nunca de chegar. Ouço-as quando me deito sobre a noite, à espera de ouvir alguma esquecida de mim, num outro momento, em que sonhar era simplesmente me delimitar num universo restrito, de palavras mortas. São locais que se resguardam na penumbra da noite, até conseguirem encetar um movimento, onde os encontros são sempre o início antes do fim.

Por fim, não passamos todos de almas penadas, envoltas em quimeras de um tempo que nunca passa sem partir. Há neste caminho, vestes para remendar à chegada da luz. Se me quiserem seguir, terão que esquentar os lugares, sempre que os olhares se erguerem e formarem esferas obliquas que caibam na minha mão. O sol tem-se feito rogado e eu segui em frente sem olhar para trás. Sigo há já algum tempo o percurso da esfera armilar. Parti sem destino e sem esta vontade louca de me saciar num encontro mais que perdido nas pedras negras duma calçada. Os meus passos são agora mais firmes, porque te esqueci num beco qualquer. Esta cidade fantasma, que se alimenta de corpos que se querem nus, nas horas em que as estrelas baixam sobre o rio, traz-me ao colo há já muitos anos. Vi-te um dia com os olhos postos no céu, e sorriam como quem se vê a viajar no espaço. Trazias nas palmas das tuas mãos, uma marca que vem de muito longe, saciavas-me nas noites calmas, ornamentadas pelos rostos caídos em jeito de amar. Eram quase todos da mesma cor. Indiferentes e circunspectos, iam sempre em direcção ao ponto de onde brotava qualquer fonte de alimento á sua alma. Se é que tinham alma, estas almas penadas, que de tanto correr, já cansadas se vestiam de branco, para poderem ser vistas na sombra onde o fado é malandro a vaguear pelos cantos.

Não esqueço o dia em que me pegaste na mão e me mostraste um ritual que me conduziu ao teu refúgio. Foi quando concluímos que amar é ficar, e dançar é rodopiar sempre no mesmo círculo. Ouviam-se por lá, outras vozes dilatadas no tempo. Era o tempo em que o amor sofria pelas ruas da amargura. Agora, é canto relembrado em corpos debilitados, que se querem num tempo em que foram um só.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cantei-te Um poema


Cantei-te um poema
Um poema só
Serviu para te dizer
Como vestir a alma
E deixá-la ao abandono

Sonhei-te em versos nus
São nus versos
Onde me deito
Sempre que meu corpo rejeita
Acordar para o mundo

Sabe de mim inteira
Mas Inteira(mente)
Sei-o, só...
Numa pequena história
Envolta num só poema

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Esboços

Encontrava-te sempre, nestes caminhos onde os encontros são tão calorosos. Então, estendia-te as mãos e alisava-te o rosto, como quem quer partir e ficar nesta confluência traçada a duas mãos e cores mate. São finitos os contornos do meu corpo e apagados os gestos caricaturados em torno da noite. Só as minhas mãos trémulas segredam aos Deuses os contos levados pela erosão do tempo e confinados a acidentais percursos. Naqueles dias a dor tomou conta de mim e não mais fui eu. Fiz quase sempre um esboço de como te seguir os passos.

(Caminhante nas horas mortas em que morrer será sempre um caminho. )

Mas, vivo assim na anuência dos dias, em que partir também é ficar, se me lembrar de novo quem eu sou. Preciso deste silêncio enamorado, em que amar era dialogar sobre um amor presente num corpo guardado. Esqueci-me há já algum tempo, por não ter tempo para nele me contemplar. Estão lá todos os olhares que trocámos, todas as palavras que esboçámos paralelas no tempo, em que fomos tudo o que quisemos.

Eu fui ausência indiscreta, tu permanência concreta.
Tu, foste sempre tu. Eu, fui sendo nos teus olhos a invisibilidade de um único traço.

Como seguir-te os passos? Já nada me prende aqui. Sou só alguém que se perde nas vozes que cala, quando consente, sentindo que as mesmas são só um caminhar contra o tempo. Ouvi-as num choro lavrado em lençóis de linho puro. Esta linhagem que se firma no nosso rosto é grandiosa e esplendorosa, e eu fixei-me nessa alvura. Há fugas que são um presente em cada esquina dobrada e novos encontros à espera. No cais há segredos guardados de outros tempos.

(Será que amei e não vi que no teu caminho há um porto mais seguro?)

Já fui espinhos nas rosas e essências em brocados fantasiados. Agora sou pétala delicada, onde mora a tristeza. Não me creias nua. Não o sei ser! Perdi-me nessa brancura e desfiz os traços pincelados na minha pele.
(foto de D.M)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Porto de Abrigo

(Foto de minha autoria em Porto Covo)
*
Há no caminhar do tempo
Um só tempo
Nos caminhos das lembranças

Aporto em lugares fora de tempo
E encontro-me algures
Num momento
Em que o futuro é canção
E o passado é tormento
Nos acordes do vento

Como te encontro
Se meus olhos são turvos
Nestes caminhos que invento?

Há um renascer no meu pranto
Quando te encontro
Em memórias contadas
*
(São histórias de mim
Num manto rasgado
(Cobrem-me o corpo molhado)

E por todos os lugares
Há um traço apagado
E nas arestas do tempo
Há caminhos traçados
E há sempre um resguardo
Onde me sento

(Há um porto nado em cada estado)
(Foto de D.M)

Reflexos Meus

( Image Google)

Sonhava ver-te do lado de lá deste rio
Sonhava assim como quem vê
A sua própria sombra
Em movimentos disformes
Nos reflexos da lua

Percursos alienáveis
Travessias apagadas
Nas translúcidas correntes
Rio inatingível
De sonhos lavrados
Em vultos caídos

Desgraça minha
Em caminhos meus
Voltagem acinzentada
Pincelada de mistério
Outrora sedutor
Das águas

Auréola acobreada
Na aragem que passa
Camuflada
Estrangulada
E ensaiada
Na eterna lucidez
Dos percursos meus

Alienação das águas
Nos caminhos corrompidos
Mas mesmo assim
Eu quero ir
Por este sonho acima
Encerrar-me no limbo posto
Quando te encontrar do outro lado
Reflexos meus
Modelos teus

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Imagina-me..

Morasse eu no teu peito
E ouvirias os sons
Da minh'alma que chora
Num beco perdida
À procura de nada
E de tudo
O que este amor
Já inventou
*
(Queria tanto dizer-te
Que o sonho marcou
Esta viela que já cantou
E no silêncio se afundou)
*
Imagina-me nesta loucura
Um sorriso que em ti ficou
Tempo nosso
Em que fui desejo ardente
Caminhante no teu corpo
*
È na vigília da tarde
Que esboço um sorriso meu
Esta densidade mórbida
Reflexo do meu olhar lacrimejante
*
É esta fuga constante
Que me faz ser permanência
Em ti e em mim
Resta-me um único tempo de verdade
O da esperança molhada
Num único beijo
*
Em vão, sofro
E o nada é já tudo
No meu corpo desnudo
Na inerte madrugada
À espera de Ti

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cansaço

Como ver nas sombras
O meu rosto
Cansado
Escancarado
Desfigurado
Se a ilusão
É um brilho difuso
No infinito
De um novo espaço?
*
De ti me alimento
Alma sequestrada
Sustentada pelo tempo
E o ocaso
Que resta à luz
*
(E quero rir
Deste adorno
No meu regaço
E dele beber
Até enlouquecer)
*
Há um fio no caminho
E buracos escondidos
Intrometidos
E sofro
Sempre que os meus passos
Se alimentam
Do rubro manto
Que escorre nas veias
Do meu cansaço
*
É ele o meu fado
Castigo
Tormento
Nascente e Poente
De um único ventre

domingo, 13 de setembro de 2009

Abismos

(Foto de Renato Fogal)

Vi-te hoje ao passar da esquina, enxovalhado, dobrado, encarquilhado, pela dor de não conseguires voltar a tua verdadeira face para a lua. São fases distintas que ela suporta nestes becos ensanguentados. Mas, nunca mostra ela também a sua verdade, nas noites em que uma das suas faces brilha sobre as águas que correm, serena e tranquilamente em baixo da ponte. Nesses escombros onde te deitas, já não há nada, a não ser um pedaço de chão que te aceita. De uma forma ou de outra, o chão que pisamos é de todos, mas aceitavelmente, pertence a quem por direito o ocupa, já que são as noites e os dias, os pilares que o sustêm. Há noites que são calmarias nos teus desejos, e dias que são como feixes de luz a queimar as entranhas da terra. Não sabes para onde te dirigir, e gastas o tempo a correr desenfreadamente, e sem forças para saberes discernir, se o dia ainda é manhã tardia, ou se a noite é ao entardecer, a caminhar para o abismo onde te deitas.

Lembro-me de olhar para ti, e tu sentado naquele banco de jardim, onde eu passava sempre acompanhada. Via-te, mas como não te conhecia, seguia o meu caminho, sempre na esperança de te encontrar mais à frente, quando tivessem cessado todos os olhares. Mas as vozes que te seguiam eram expostas às chuvas do fim do verão. Passei por mais um filão, e à beira rio, um beco estreito, que se deleita às costas de um sol que só espreita por entre as casas onde já nada sobrevive. Lamentos, choros de crianças e os pais são como os saltimbancos, em busca do pão que a seara já deixou de fabricar, faz tempo. Eu, inundava-te os passos de utopias, e lembranças de outros tempos em que também eu ocupava o mesmo chão.

Como sinalizar os espaços? Estremá-los de modo a que possamos ficar inteiros na terra de ninguém? Há só um caminho! Baptizá-lo e delimitá-lo com as marcas que os nossos corpos contêm. Os trajes verdadeiros são sempre manufacturados pelos olhares da alma, e vesti-la, é um gesto que nos cabe por inteiro, mesmo que nos falte um pedaço de chão.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Submundos

Neste mundo que nos rodeia, estamos todos de peito aberto a tudo. Mas será que esse “tudo”, cabe nos orifícios reclamados pelo que é verdadeiro e interiormente inteiro, ao ponto de nos transformarmos em nada? Ou será que esse “nada” é transversal, e somos só um mero ponto na cosmologia do tempo em que o verdadeiro “ponto” é o cosmos? Um verso daria para defini-lo aqui deste micro–ponto, mas, desordenados, “mal amados” e aclamados, caminham lado-a-lado, alguns versículos afanados, que prestam serviços ao mundo invertido.

Os dogmas instituídos!

Microcosmos sãos os instantes que o universo contém, desde o falso apocalíptico, até ao tudo universalmente aceite na nova era dos registos meramente informativos. As Instituições são um estado paralelo, entre a presa e o camaleão. Seres que se prestam a tudo, mesmo que o mundo se esconda nas crateras relacionadas com os diversos submundos. Bardos são os nomes que os sustêm - essas maleitas intransponíveis, levadas ao colo pelas “mães” que os geraram e criaram.

O que será deles num futuro, já passado?

Dilema

Em escala invertida
Sucumbem amores
Já cansados

Amostra de gente
Aparelhada
Sem nome
Natural(mente)
Aliciada
Desfigurada
Retorna à luz

(Virtual)íssimo
O ritmo cardíaco
In-determinado
Expira um único tema
(Um dilema)