sexta-feira, 30 de abril de 2010

Becos Sem Saída


Estou num tempo, que nem sei se será o meu, por saber que irei estar num tempo só nosso, nalgum sítio paralelo Mundi-Universo. Sei que as lágrimas que em muitos dias e muitas noites se acumulam, farão deste meu sentido que dou à vida, um rio que corre, e não parará de encher até se completar este novo ciclo. Estou num tempo vivo de forças mortas, mas sei que nos trarão a iluminação “divina” e nele estarás comigo, porque eu sou a metade que se juntará à outra metade, e juntas farão das duas uma só, em função da vida que já vivemos e das que iremos ainda viver.

Mereço a terra, mereço o chão onde me devasso, mereço o céu onde me desfaço em partículas miudinhas, mereço um castigo ainda maior, se me deitar nos TEUS braços e ficar adormecida até ao próximo Inverno. Invariavelmente serei a dor que me arruína a solução aquosa da vida já gasta no meu corpo. Emagrecemos os gestos, mas faremos da vida um tempo inerte de amontoados seres em comunicação com a magnitude de um mesmo centro convexo por natureza morta, mas estático e estilizado por outras viventes nas luxúrias de um tempo castrado e ensandecido nas montanhas de um pensamento. Escalaremos o mundo para trazer à vida um sonho novo, e renovaremos as letras e as palavras que se quiserem entabular nas frases expostas, sendo um só movimento circunscrito pelo tempo que as quisermos.

Haveremos de falar! Haveremos de nos mostrar, quando nos olharmos de frente e nas diferenças, procurarmos a solução para que alguns organizadores de rastilho na mão, incendeiem a dor dos que se fragmentam sempre com uma mão no centro do seu corpo, e a outra nos centros estáticos de um poder imensurável mas castrador de mentes ensandecidas nos submundos. É aí que impera o silêncio que se acumula aos molhos e se purifica, por não saber como falar do mundo que nos acolheu desde que se prontificou para morrer num beco sem saída.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Saber-e o que se procura

Saber-se o que se procura
num mundo vasto em tantas gentes
em gentios gestos de mero in-conformismo
é olharmos outras sementes
que lançadas no sítio certo
darão na medida certa (talvez um alqueire, raso a rasar, por certo)
uma nova semeadura
casta, madura


terça-feira, 13 de abril de 2010

Verdes São As Folhas

(Foto Dolores Marques)
*
Ainda há uma semana estavam nuas, as árvores, esqueléticas na sua forma em ramos esguios, mas abandonados pela cor que a Primavera sempre lhes empresta. Olho-as de baixo para que vejam através da sua altivez, a minha pequenez. O chão, esse está sempre de colo aberto à mínima escoriação do tempo que ali é ponto de paragem entre as pedras e os canteiros dos jardins.

Sofre de tantas penas esta sôfrega manhã de Primavera, e eu caminho assim, meio desatinada pela beira da estrada. O céu indica-me as horas, mas de nada vale saber se há horas certas nesta cálida manhã. Assim, encontro-me também entre a nudez da alma, e coloração de um verde-esmeralda, que em determinada parte do meu corpo, se prepara para esculpir sonhos, e enaltecer os olhares que acalmam as correntes do rio. Este, enquanto espera traz sempre novos ventos e novas investidas no cais, aparentando nobreza e fortalecendo as tábuas do passadiço. Eu, abandono-me ao tempo em que não me cansava de contar as estrelas na minha aldeia:


- Há o “nascer do sete-estrelo”, que corresponde à Úrsula Menor e/ou Maior, que quando se avista por detrás do monte será a hora de encaminhar as águas;
- Há o “por da Estrela” que é a hora exacta na madrugada em que ela se vai, orientando o seguimento de outras águas que descem da serra;
- Há a contagem das horas, através dos raios solares, que ao embater no morro escarpado pelo tempo é também hora de acrescentar mais umas horas às águas que passam;
- Há o "meio-dia do sol", que é quando o sol atinge um ponto no firmamento, que ali é à uma e meia da tarde - formas de contagem do tempo, pelos antigos, para se calcular os movimentos que aquele pedaço de terra dava à volta do sol.

Continuar a viver por entre quatro paredes, será o mesmo que viver enclausurada numa cidade que me entorna sobre os pés, um pouco da calidez do mundo acompanhado das chuvas ácidas. O horizonte é vasto e eu por aqui, de solstício em solstício, sem saber para onde encaminhar os meus passos. Dava-lhes tudo de mim se mo pedissem, se não me rejeitassem, se não me encandeassem com esse brilho meio atordoado de uma vida gasta por sujeições do destino. De que adianta esmiuçarem a minha dor, a minha permanência, se só serão eu, quando souberem também ser? Podem até me virar do avesso, mas só encontrarão o refugo daquilo que fui, porque a cada momento me renovo com o nascimento de novas flores, para vestir as palavras que escrevo, as quais serão alimento do meu corpo e vestimenta que me tape a alma. Há trapos, que como indumentária gasta, se apresentam à limpidez das águas do rio, e  prestes a vestirem os mendigos que ocupam as ruas da cidade. Observando-as de longe nada mais são do que um carreiro estreito por entre vielas de escárnio.
Continuo à espera de os encontrar nestes caminhos, mas nunca os avisto, a não ser quando já nada tenho para lhes oferecer. E eu queria tanto encontra-los para depois voltar a ser poeira das estrelas em direcção ao sol.

Sobrevivo sempre a novos temas, mas o corpo avesso a tudo o que o tempo traz, deu um volte-face, despojado das noites e purificado pelos dias, do mais puro néctar que a vida tem para lhe dar.
E, assim por vezes errantes, somos contrariamente a emancipação da única verdade que nos faz ser, seres invulgares e diferenciados na terra que nos revolverá às cinzas e de lá nos fará renascer únicos na forma. Só assim poderemos encetar novos voos por entre os dedos das nossas mãos, porque são eles, um reflexo laminar do tempo que nos resta.
Verdes são as folhas e nelas me deito até à próxima investida do Outono.