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Ainda há uma semana estavam nuas, as árvores, esqueléticas na sua forma em ramos esguios, mas abandonados pela cor que a Primavera sempre lhes empresta. Olho-as de baixo para que vejam através da sua altivez, a minha pequenez. O chão, esse está sempre de colo aberto à mínima escoriação do tempo que ali é ponto de paragem entre as pedras e os canteiros dos jardins.
Sofre de tantas penas esta sôfrega manhã de Primavera, e eu caminho assim, meio desatinada pela beira da estrada. O céu indica-me as horas, mas de nada vale saber se há horas certas nesta cálida manhã. Assim, encontro-me também entre a nudez da alma, e coloração de um verde-esmeralda, que em determinada parte do meu corpo, se prepara para esculpir sonhos, e enaltecer os olhares que acalmam as correntes do rio. Este, enquanto espera traz sempre novos ventos e novas investidas no cais, aparentando nobreza e fortalecendo as tábuas do passadiço. Eu, abandono-me ao tempo em que não me cansava de contar as estrelas na minha aldeia:
- Há o “nascer do sete-estrelo”, que corresponde à Úrsula Menor e/ou Maior, que quando se avista por detrás do monte será a hora de encaminhar as águas;
- Há o “por da Estrela” que é a hora exacta na madrugada em que ela se vai, orientando o seguimento de outras águas que descem da serra;
- Há a contagem das horas, através dos raios solares, que ao embater no morro escarpado pelo tempo é também hora de acrescentar mais umas horas às águas que passam;
- Há o "meio-dia do sol", que é quando o sol atinge um ponto no firmamento, que ali é à uma e meia da tarde - formas de contagem do tempo, pelos antigos, para se calcular os movimentos que aquele pedaço de terra dava à volta do sol.
Continuar a viver por entre quatro paredes, será o mesmo que viver enclausurada numa cidade que me entorna sobre os pés, um pouco da calidez do mundo acompanhado das chuvas ácidas. O horizonte é vasto e eu por aqui, de solstício em solstício, sem saber para onde encaminhar os meus passos. Dava-lhes tudo de mim se mo pedissem, se não me rejeitassem, se não me encandeassem com esse brilho meio atordoado de uma vida gasta por sujeições do destino. De que adianta esmiuçarem a minha dor, a minha permanência, se só serão eu, quando souberem também ser? Podem até me virar do avesso, mas só encontrarão o refugo daquilo que fui, porque a cada momento me renovo com o nascimento de novas flores, para vestir as palavras que escrevo, as quais serão alimento do meu corpo e vestimenta que me tape a alma. Há trapos, que como indumentária gasta, se apresentam à limpidez das águas do rio, e prestes a vestirem os mendigos que ocupam as ruas da cidade. Observando-as de longe nada mais são do que um carreiro estreito por entre vielas de escárnio.
Continuo à espera de os encontrar nestes caminhos, mas nunca os avisto, a não ser quando já nada tenho para lhes oferecer. E eu queria tanto encontra-los para depois voltar a ser poeira das estrelas em direcção ao sol.
Sobrevivo sempre a novos temas, mas o corpo avesso a tudo o que o tempo traz, deu um volte-face, despojado das noites e purificado pelos dias, do mais puro néctar que a vida tem para lhe dar.
E, assim por vezes errantes, somos contrariamente a emancipação da única verdade que nos faz ser, seres invulgares e diferenciados na terra que nos revolverá às cinzas e de lá nos fará renascer únicos na forma. Só assim poderemos encetar novos voos por entre os dedos das nossas mãos, porque são eles, um reflexo laminar do tempo que nos resta.
Verdes são as folhas e nelas me deito até à próxima investida do Outono.
Sofre de tantas penas esta sôfrega manhã de Primavera, e eu caminho assim, meio desatinada pela beira da estrada. O céu indica-me as horas, mas de nada vale saber se há horas certas nesta cálida manhã. Assim, encontro-me também entre a nudez da alma, e coloração de um verde-esmeralda, que em determinada parte do meu corpo, se prepara para esculpir sonhos, e enaltecer os olhares que acalmam as correntes do rio. Este, enquanto espera traz sempre novos ventos e novas investidas no cais, aparentando nobreza e fortalecendo as tábuas do passadiço. Eu, abandono-me ao tempo em que não me cansava de contar as estrelas na minha aldeia:
- Há o “nascer do sete-estrelo”, que corresponde à Úrsula Menor e/ou Maior, que quando se avista por detrás do monte será a hora de encaminhar as águas;
- Há o “por da Estrela” que é a hora exacta na madrugada em que ela se vai, orientando o seguimento de outras águas que descem da serra;
- Há a contagem das horas, através dos raios solares, que ao embater no morro escarpado pelo tempo é também hora de acrescentar mais umas horas às águas que passam;
- Há o "meio-dia do sol", que é quando o sol atinge um ponto no firmamento, que ali é à uma e meia da tarde - formas de contagem do tempo, pelos antigos, para se calcular os movimentos que aquele pedaço de terra dava à volta do sol.
Continuar a viver por entre quatro paredes, será o mesmo que viver enclausurada numa cidade que me entorna sobre os pés, um pouco da calidez do mundo acompanhado das chuvas ácidas. O horizonte é vasto e eu por aqui, de solstício em solstício, sem saber para onde encaminhar os meus passos. Dava-lhes tudo de mim se mo pedissem, se não me rejeitassem, se não me encandeassem com esse brilho meio atordoado de uma vida gasta por sujeições do destino. De que adianta esmiuçarem a minha dor, a minha permanência, se só serão eu, quando souberem também ser? Podem até me virar do avesso, mas só encontrarão o refugo daquilo que fui, porque a cada momento me renovo com o nascimento de novas flores, para vestir as palavras que escrevo, as quais serão alimento do meu corpo e vestimenta que me tape a alma. Há trapos, que como indumentária gasta, se apresentam à limpidez das águas do rio, e prestes a vestirem os mendigos que ocupam as ruas da cidade. Observando-as de longe nada mais são do que um carreiro estreito por entre vielas de escárnio.
Continuo à espera de os encontrar nestes caminhos, mas nunca os avisto, a não ser quando já nada tenho para lhes oferecer. E eu queria tanto encontra-los para depois voltar a ser poeira das estrelas em direcção ao sol.
Sobrevivo sempre a novos temas, mas o corpo avesso a tudo o que o tempo traz, deu um volte-face, despojado das noites e purificado pelos dias, do mais puro néctar que a vida tem para lhe dar.
E, assim por vezes errantes, somos contrariamente a emancipação da única verdade que nos faz ser, seres invulgares e diferenciados na terra que nos revolverá às cinzas e de lá nos fará renascer únicos na forma. Só assim poderemos encetar novos voos por entre os dedos das nossas mãos, porque são eles, um reflexo laminar do tempo que nos resta.
Verdes são as folhas e nelas me deito até à próxima investida do Outono.
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