segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Desejos Eruditos (P/Vony Ferreira)


Começa a ser já uma sorte sã
Esta ligação às palavras
Findo este tempo há um começar de novo
Com novos temas e novos versos declamados
E aclamados aos quatro cantos do mundo

Caminhamos sempre no sentido inverso,
Àquele que nos é mostrado no decorrer dos dias
E somos sempre figuras abstractas
Lentas no deslizar das horas
E há um verso ameno que nos afaga a alma
E um poema inteiro na multiplicação dos dias

São sentimentos que brotam do peito
Como cultura fértil adubada pelos olhares
De um mundo que vive de memórias
De farrapos gastos nas noites frias
Encostados aos muros de uma cidade em festa

Sei que me vestes a pele de canduras finas
Mas também sei que me queres perto
Tão perto como os teus olhos estão da tua visão do futuro
Que se encosta sempre aos tempos idos
Que de uma forma ou de outra é leve, muito leve

Não sei já decifrar o que me tem presa a ti
Se este fardo antigo que viaja comigo
Ou se um presente ilusório e castrador
Renegando a força que me pesa nos ombros
De te ser um desejo subtraído à dor que carrego

Mas sei também que te quero muito
Neste vai-e-vem cantarolado nas noites
Em que te dispões a ler-me
E a sentir-me na agitação das minhas palavras
Sou eu neste desassossego inteiro sempre que amo

E amo…
Sempre que a minha alma sente
Que fazes das minhas palavras as tuas palavras
Na construção de um mundo novo
Onde sou mulher fora de tempo
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=109127

domingo, 29 de novembro de 2009

Viagens

(Imagem de Jet do site Olhares)
*
Misturei-me
Nos ventos tardios
Subi tímida
Às cascatas
Dos teus olhos
Revisitados
Pelas nortadas densas
E povoados raros

Cantei-te poemas
E adormeci na tua boca
Quente…luxuriante
E revi-me nua
Em outros tempos mortos
Nas masmorras do tempo

Visto-me de outras eras
Na longitude da luz
Sou reflexos mistos
Silhuetas uniformes
E perpetuo-me sempre
Que m’adentro
No teu ego ferido


Contigo sou todos os nomes
Que conheço
E até aqueles
Que me abraçam
Sem idade
E quero…quero muito
Que me leves
No teu mar
Em noite secas
Que transformarei
Em mil pedaços
Para te mostrar a vida
E o amor que ainda
Vive em mim

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Mas Eu, Já Sem Vontade


Mas eu…
Custa-me tanto ver-te
Nesse estado anémico
Absorvendo o vento
E o que ele te traz

Talvez seja
Uma carta aberta
Ao destino
Ou um sabor da vida
Como sempre faz

Ou então será outra dor
Que deu á costa
Costumeira
A cair-te nos braços
E em teus versos se refaz

E eu, já sem vontade alguma
De te ver nessa luta diária
Errando os passos
Dedilhando notas soltas
E parafraseando o tempo
Há muito tempo atrás

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vem Caminhar Comigo


Quero ouvir-te em histórias antigas, mas cantadas nos telhados das novas casas, a abafar o bolor característico dos espaços fechados. Por isso, me dou às cegas pelas pradarias longínquas, onde há ecos mudos e um sol que nasce sempre que a noite é finita. Só aí, há um cântico aberto ao mundo que me escuta e que sustenta as lágrimas que se despenham nas minhas mãos. Há um misto de saudade que se esvai por entre os dedos semi-abertos e não sei já falar, desta dor que me consome o peito, quando me dou inteira a ti.

Sôfrega do mar, fugi para longe, e dirigi-me para sul. Lá os sonhos são mais azuis e as gentes vivem na calmaria de desejos mais ou menos cristalizados. Sofrem as dores de parto antes do tempo, e as forças benignas trazem cantares longínquos de outras eras, em que os registos passaram de mera informação, para uma profunda constatação dos factos reais, em que o equilíbrio, não passa já, de manufactura do acaso.

Afundei-me nesse mar que vi!

Mas, sofro neste silêncio amarfanhado, sempre que o fardo dos anos me deixa morta de cansaço e desprendo-me das horas todas, em completo desleixo. Caminho agora sem destino, e há um som perdido que me encontra sobre esta medida exacta, que é o mundo no sossego das minhas mãos. Ele diz-me sempre como chegar ao topo, mas lá, há estrelas cadentes que se esfregam nos meus olhos, e a cegueira traz-me imagens doentes de quando o mundo sofria. Sofria tanto, que até os olhares que carrego me abominam em cada círculo, geometricamente traçado à roda dos meus olhos.

Triste sina!

É fria a sua voz, e caminha cansado do destino que lhe coube á sorte. Há sortes assim! A minha ainda não foi lançada, para que no meu ventre, encontre a essência desmesurada e te entregue a noite assim, cansada de mim e do nada que fui, enquanto dormias. Assim, vou deslizando, lenta, mas caminhante, através destes movimentos obtusos, e paralisados através do medo que me rouba o sono. Os candeeiros apagam-se, e a noite finda, volta ao seu estado original. Há um protótipo do vazio esperando por nós, e na matriz, jaz o cálice da vida que carrego há tantos anos.

Quero-te muito, mas não suporto este fardo antigo. Vem caminhar comigo

Sou Alma em Ti

(Pintura de Jomasipe)


Se estivesses mais perto do mar
Verias o ar que encerra a noite
Quando os teus olhos
Mergulham na escuridão
E um rio que espera em vão…

Há um sonho a tender para o infinito
E um corpo estendido na areia
Há uma brisa suave
Arremessada pelo vento
A adormecer no horizonte

A espuma salgada
Molha-me os pés descalços
E o azul do mar pinta-me magro rosto
E eu, em outro tempo,
Um corpo só no teu regaço

Agora, há outra força que caminha
Há a maré desvinculada
Deste mar que me veste a pele
Sou alma, sou fé no cais,
Estou perto de ti

Libertei-me de mim. Sofri!
Por reter passagens breves
Mas muito leves deste mar
Onde nasci e vivi
Quase adormecida no convés, sem ti!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Amor meu...

Dormir sem parar
E acordar nos teus sonhos
Conseguir distinguir nas nuvens
Letras tuas
Sonhos meus

Lembranças de um passado
Em que acordar
Era pensar-Te
E ouvir-Te
E sentir-Te

Amor meu…

SEI LÁ



Sei lá...
Porque a dor é assim
Delinquente
A assomar-se nos caminhos
A quebrar todas as regras
Saudação em pedra dura
Natural (mente)
É casta doce, madura
Em sangue quente
E o meu corpo frio
É Indigente
Mas consente
Nos caminhos ancestrais
A queda pura

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Uma Face Minha, Um Toque Teu (dueto c/Jomasipe)


Há um mar longínquo nos meus olhos,
e uma areia infinita nas lágrimas molhadas,
um amor cansado, quente, amanhecido tarde,
uma vontade que ama,
me alimenta,
me junta a ti,
na incandescência das marés revoltas em dias de temporal...

Há uma triste sina envolta em dias cinza
Uma cidade que me ama e me deseja
Sempre que ao virar da esquina
Te encontro nesse mar que caminha
Por entre os escombros do meu leito morno
Quantos caminhos percorro até chegar a ti
E no horizonte há um olhar que anoitece

Há um caminho oculto, nas moradas abandonadas,
um mar envolto em chamas,
uma nebulosa, ofusca no céu molhado,
uma cálida manhã de Primavera,
uma face minha, um toque teu.
Há uma mão tua em mim,
que não me larga e que me abrasa.

Há sempre a livre vontade de ir mais longe
Há nas nossas mãos letras pequenas, benfazejas
De quando era uma triste menina
A acordar nos teus olhos
E fui-Te mar cansado, obra minha
Ter-te em cima como em baixo
Será o remanescer calado no meu ventre continuado

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cansaço

Sinto-me cansada de tudo
O que à minha volta mexe
É algo que adormece
Em poemas inacabados
E nas incertezas
Há a inércia do tempo

Sinto-me vazia de ti
De mim
De nós
Enfim cansada
Daquilo que mexe