quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Os Deuses e Eu

Os Deuses acabaram
De me deixar louca
Louca de cansaço
E de tanta confusão
Em versos meus
E loucuras que tais
Pelos doces madrigais
*
Os Deuses acabaram
Com esta loucura
De ser só um mito
E no desenlace
Lembraram à lua
Em versos que tais
Que o mundo marcou
Os sonhos desiguais

A Voz do Silêncio

Enquanto o meu corpo se enrolava na noite por entre os lençóis, desciam na madrugada gotículas de orvalho miudinhas, e sem grande ruído, alcançavam as ruas desta triste cidade. É nas noites de insónia, que ouço com mais clareza os sons que me chegam, trazidos pelas brisas outonais. Esta é a voz primordial, que me conduz por becos onde já nada acontece, a não ser alguns pingos de luar, a descansar ao relento nesta manhã de fim de verão.
(Não há como permanecer acordada durante a noite e viajar ao encontro do fado, que de tão cansado, adormece num canto enjeitado)
Até os muros adormecem, ouvindo este cântico negro! O trajecto matinal é contínuo e vai quase sempre ao encontro do sol nado e criado nas correntes que o Tejo abraça. Têm sempre um destino traçado. Fiz um acordo com o acobreado do rio, de sermos um par acordado e vigilante na noite. Um olhar preso a esta maravilha que é acordar para o mundo. Vejo-te todas as manhãs, neste meu trajecto, mas tu não sabes os caminhos que tenho que percorrer para chegar a ti. Outros olhares misturam-se nesta confusão de gritos ocultos nas madrugadas, que sou como uma dessas gotas de orvalho, adormecida na relva tosca de um relvado abandonado. Careço de mais um pouco de sol, para me desprender desta pétala esverdeada. A sua cor desvanece-se nas pedras da caçada.
(Tanto muro, quanto betão. Tanto chão, quanto ruído e eu sei saber dizer não a este sol que me atrofia a visão.)
Há no silêncio da noite um olhar fecundo nos caminhos onde morou a ilusão. Fruto de alguma emoção, foram-se as palavras que contaram sobre histórias de rostos sem nome. Vagueiam sonâmbulas por cada canto Já sem qualquer pingo e razão.
Ouves a minha voz? Ao menos sentes que se distancia destes muros de betão, para te contar de uma noite, onde me mantive acordada, por saber que estavas abandonado num qualquer chão?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Cegueira (ensaio)

São lentos os meus passos nesta manhã de Outono. Não sei já decifrar, se o sol que vejo reflectido nas águas do rio nasceu hoje, ou o que ficou esquecido na berma da estrada. Nesta confusão, antevejo um sentido desnorteado, concomitante com um pensamento ancorado nas varandas de outras cidades. Abriram-se à corrente que passa e eu fiquei do lado de fora. Gritei e ninguém ouviu. Será que não me vêem nesta rua? É uma rua deserta e sem nome, eu sei, mas continua a ser a nossa rua.

Sempre por aqui passei e lhes acenei. Quanto desespero por aqui encontrei!

Caminho sem destino, já ninguém me vê. Existirei à transparência como a agua que passa? As chuvas chegaram mais cedo anunciando mudanças de estação. Quero encontrar o fio condutor desta estrada, mas a poeira acumulada, já limpou todos os trilhos que me levavam ao encontro de um poiso certo do outro lado da cidade. Neste caminho, algo me leva a concluir que já não mora aqui ninguém. As águas pardacentas carregam novos detritos, que não enxergo quase nada.

Estão lamacentos os meus olhos!

Atravessaram todos para a outra margem. Os vultos que passam são só meros portadores da nova desgraça que assolou esta cidade. Fingem que nada se passa por não saberem fugir ao esquecimento.

Darão guarida à cegueira que os abraça?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Miragem

Insisto neste baloiçar.
Gosto de sentir esta adrenalina no corpo, de te saber um único caminho na poeira da estrada.

Foi apenas miragem que passou, e já não temo por quase nada. Voltei a mim no dia em que partiste e fui só um dia, lágrimas no teu rosto. Nem sabes as cores que contêm quando se entregam a troco de nada. Foi talvez uma pincelada de ar fresco que na manhã desceu sobre o rio e me afogou esta mazela engasgada.

Subi ao cimo do monte e só vi uma estrela acorrentada pelas marés vivas. Avivam-me a memória sempre que me tocam as pontas dos pés e me levantam de pé sem mais nada. As vestes já foram rasgadas, o corpo amoleceu com a tua chegada, e tu contaste as bravuras que alcançaste nessa estrada. Já foi minha um dia, mas lembro agora, que quando partiste, fui só eu que me lembrei da tua morada.

Desapego

Aguardo por um fim translúcido
Erguer-me-ei das sombras
Encerrando-me por fim
Num vazio igualitário
Onde mora a minha alma
*
Deixem-me neste rio corrente
Abandonem-me á minha sorte
Que a morte chega já
E eu quero estar lá
E contar-lhe em segredo
Quem eu sou…
*
Digo-lhe do mundo
Conto-lhe de mim
Em novas histórias
Que se mostram afins
Na terra prometida
Onde morri já
A léguas de ti

domingo, 27 de setembro de 2009

Cidade Fantasma

Os sons da noite trazem segredos que nunca ninguém ouviu. Sou uma privilegiada nesta noite inquieta, e enamorada das vozes e deste ruído infernal. É a passagem das horas na incerteza de alcançar o próximo apeadeiro. O ruído estende-se na berma da estrada, e o vento suave deixa um fio muito ligeiro na minha pele. Do meu cabelo negro, solta-se um brilho clareador nesta madrugada. É da densa névoa que paira sobre o rio. Remendei a estrada para poder passar livre e alegremente sem ter que pedir licença aos transeuntes, mas mesmo assim, não vi que essa mesma estrada, já tinha sido tocada por momentos que já não sabem o que são, nem são o que sabem. Deverão ser só almas que vagueiam sem destino.

Há um uma voz solicita em silêncio. Nessa direcção uma outra a alcança numa fracção de segundos, e há também olhares que se trocam em cumplicidades loucas entregues à brisa que passa. Assim me detenho perante este olhar que se foca no meu rosto, sem deixar de passar pelo meu cabelo. Se ele tiver a cor do meu olhar decerto será uma cor neutra, quase a tocar no vazio. Assim estão os meus olhos indiferentes ao movimento da cidade. Há nesta mudez uma calma inventada, porque ao longe, ouve-se o ruído dos carros que passam - audível mesmo estando eu neste estado semi-anestesiado, pelo embate violento a que me sujeitei, nesta suave brisa da madrugada. Ao longe, os barcos anunciam largada, e as luzes deixam na corrente um colorido enfeitiçado. Sobre os meus ombros há um toque gelado que é coberto com o rescaldo da noite. Maciez quente a exalar-me os sentidos. Etéreos gestos tão firmes e delicados.

(Perdi-me no teu sorriso e nos sinais de brancura com que pintas as cores da noite)

Caminho sem destino, mas acordado o sol, terei que adormecer no seu regaço. Guardo o teu olhar no meu corpo, registei o teu sorriso e o carrossel que inventaste para me mostrar as voltas que demos, ainda anda às voltas sem parar. Mesmo que eu o queira fazer rodar no sentido contrário aos ponteiros do relógio, é impossível. Tu estás lá para me travar e me ensinar como se habita um olhar esquecido numa cidade fantasma.

Viagem


Bati à porta errada
Já aqui não mora ninguém
Que me possa levar
Nesta viagem
Até à outra margem

Fecharam-me este abrigo
Levaram consigo
Todos os pertences
E deixaram comigo
Só alguns grãos de trigo

Se quisessem
Podia falar-lhes
Do vento que passa,
E do fumo que abraça
Mas nunca de nós
Na mesma barcaça

Agora há só fumaça
Que alegremente esvoaça
Há um timbre afinado
E um pasto aberto
À água que passa

sábado, 26 de setembro de 2009

Cantar de Amigo

Nada sei do tempo
À conversa comigo
Sobre um sonho antigo
Imaginei-o sempre
Em outro tempo
À conversa contigo
*
Sabes que há movimentos
Que dou ao corpo
Que me parecem ser
Rituais perdidos
Ou bailados
Em palcos esquecidos?
*
Incertos são os passos
Neste caminho
Há um perigo iminente
Sempre que penso
Como pedir ao tempo
Um cantar de amigo

Almas Penadas

(foto de minha autoria em Castro Daire)
Há neste silêncio uma voz apagada, mas continuo a ouvir os sons que me chegam do outro lado. Caminham já na minha direcção. Se me focar no ponto de onde vim, há a certeza de ser um silêncio guardado, que me segue num caminho inverso, contrariamente aquilo que fui no passado. Sou eu e tu quando nos olharmos no espelho, e conseguirmos tocar ao de leve na imagem reflectida. Aí ouviremos as nossas vozes mesmo que isentas de som ao encontro com outras que correm no tempo, e não param nunca de chegar. Ouço-as quando me deito sobre a noite, à espera de ouvir alguma esquecida de mim, num outro momento, em que sonhar era simplesmente me delimitar num universo restrito, de palavras mortas. São locais que se resguardam na penumbra da noite, até conseguirem encetar um movimento, onde os encontros são sempre o início antes do fim.

Por fim, não passamos todos de almas penadas, envoltas em quimeras de um tempo que nunca passa sem partir. Há neste caminho, vestes para remendar à chegada da luz. Se me quiserem seguir, terão que esquentar os lugares, sempre que os olhares se erguerem e formarem esferas obliquas que caibam na minha mão. O sol tem-se feito rogado e eu segui em frente sem olhar para trás. Sigo há já algum tempo o percurso da esfera armilar. Parti sem destino e sem esta vontade louca de me saciar num encontro mais que perdido nas pedras negras duma calçada. Os meus passos são agora mais firmes, porque te esqueci num beco qualquer. Esta cidade fantasma, que se alimenta de corpos que se querem nus, nas horas em que as estrelas baixam sobre o rio, traz-me ao colo há já muitos anos. Vi-te um dia com os olhos postos no céu, e sorriam como quem se vê a viajar no espaço. Trazias nas palmas das tuas mãos, uma marca que vem de muito longe, saciavas-me nas noites calmas, ornamentadas pelos rostos caídos em jeito de amar. Eram quase todos da mesma cor. Indiferentes e circunspectos, iam sempre em direcção ao ponto de onde brotava qualquer fonte de alimento á sua alma. Se é que tinham alma, estas almas penadas, que de tanto correr, já cansadas se vestiam de branco, para poderem ser vistas na sombra onde o fado é malandro a vaguear pelos cantos.

Não esqueço o dia em que me pegaste na mão e me mostraste um ritual que me conduziu ao teu refúgio. Foi quando concluímos que amar é ficar, e dançar é rodopiar sempre no mesmo círculo. Ouviam-se por lá, outras vozes dilatadas no tempo. Era o tempo em que o amor sofria pelas ruas da amargura. Agora, é canto relembrado em corpos debilitados, que se querem num tempo em que foram um só.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cantei-te Um poema


Cantei-te um poema
Um poema só
Serviu para te dizer
Como vestir a alma
E deixá-la ao abandono

Sonhei-te em versos nus
São nus versos
Onde me deito
Sempre que meu corpo rejeita
Acordar para o mundo

Sabe de mim inteira
Mas Inteira(mente)
Sei-o, só...
Numa pequena história
Envolta num só poema

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Esboços

Encontrava-te sempre, nestes caminhos onde os encontros são tão calorosos. Então, estendia-te as mãos e alisava-te o rosto, como quem quer partir e ficar nesta confluência traçada a duas mãos e cores mate. São finitos os contornos do meu corpo e apagados os gestos caricaturados em torno da noite. Só as minhas mãos trémulas segredam aos Deuses os contos levados pela erosão do tempo e confinados a acidentais percursos. Naqueles dias a dor tomou conta de mim e não mais fui eu. Fiz quase sempre um esboço de como te seguir os passos.

(Caminhante nas horas mortas em que morrer será sempre um caminho. )

Mas, vivo assim na anuência dos dias, em que partir também é ficar, se me lembrar de novo quem eu sou. Preciso deste silêncio enamorado, em que amar era dialogar sobre um amor presente num corpo guardado. Esqueci-me há já algum tempo, por não ter tempo para nele me contemplar. Estão lá todos os olhares que trocámos, todas as palavras que esboçámos paralelas no tempo, em que fomos tudo o que quisemos.

Eu fui ausência indiscreta, tu permanência concreta.
Tu, foste sempre tu. Eu, fui sendo nos teus olhos a invisibilidade de um único traço.

Como seguir-te os passos? Já nada me prende aqui. Sou só alguém que se perde nas vozes que cala, quando consente, sentindo que as mesmas são só um caminhar contra o tempo. Ouvi-as num choro lavrado em lençóis de linho puro. Esta linhagem que se firma no nosso rosto é grandiosa e esplendorosa, e eu fixei-me nessa alvura. Há fugas que são um presente em cada esquina dobrada e novos encontros à espera. No cais há segredos guardados de outros tempos.

(Será que amei e não vi que no teu caminho há um porto mais seguro?)

Já fui espinhos nas rosas e essências em brocados fantasiados. Agora sou pétala delicada, onde mora a tristeza. Não me creias nua. Não o sei ser! Perdi-me nessa brancura e desfiz os traços pincelados na minha pele.
(foto de D.M)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Porto de Abrigo

(Foto de minha autoria em Porto Covo)
*
Há no caminhar do tempo
Um só tempo
Nos caminhos das lembranças

Aporto em lugares fora de tempo
E encontro-me algures
Num momento
Em que o futuro é canção
E o passado é tormento
Nos acordes do vento

Como te encontro
Se meus olhos são turvos
Nestes caminhos que invento?

Há um renascer no meu pranto
Quando te encontro
Em memórias contadas
*
(São histórias de mim
Num manto rasgado
(Cobrem-me o corpo molhado)

E por todos os lugares
Há um traço apagado
E nas arestas do tempo
Há caminhos traçados
E há sempre um resguardo
Onde me sento

(Há um porto nado em cada estado)
(Foto de D.M)

Reflexos Meus

( Image Google)

Sonhava ver-te do lado de lá deste rio
Sonhava assim como quem vê
A sua própria sombra
Em movimentos disformes
Nos reflexos da lua

Percursos alienáveis
Travessias apagadas
Nas translúcidas correntes
Rio inatingível
De sonhos lavrados
Em vultos caídos

Desgraça minha
Em caminhos meus
Voltagem acinzentada
Pincelada de mistério
Outrora sedutor
Das águas

Auréola acobreada
Na aragem que passa
Camuflada
Estrangulada
E ensaiada
Na eterna lucidez
Dos percursos meus

Alienação das águas
Nos caminhos corrompidos
Mas mesmo assim
Eu quero ir
Por este sonho acima
Encerrar-me no limbo posto
Quando te encontrar do outro lado
Reflexos meus
Modelos teus

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Imagina-me..

Morasse eu no teu peito
E ouvirias os sons
Da minh'alma que chora
Num beco perdida
À procura de nada
E de tudo
O que este amor
Já inventou
*
(Queria tanto dizer-te
Que o sonho marcou
Esta viela que já cantou
E no silêncio se afundou)
*
Imagina-me nesta loucura
Um sorriso que em ti ficou
Tempo nosso
Em que fui desejo ardente
Caminhante no teu corpo
*
È na vigília da tarde
Que esboço um sorriso meu
Esta densidade mórbida
Reflexo do meu olhar lacrimejante
*
É esta fuga constante
Que me faz ser permanência
Em ti e em mim
Resta-me um único tempo de verdade
O da esperança molhada
Num único beijo
*
Em vão, sofro
E o nada é já tudo
No meu corpo desnudo
Na inerte madrugada
À espera de Ti

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cansaço

Como ver nas sombras
O meu rosto
Cansado
Escancarado
Desfigurado
Se a ilusão
É um brilho difuso
No infinito
De um novo espaço?
*
De ti me alimento
Alma sequestrada
Sustentada pelo tempo
E o ocaso
Que resta à luz
*
(E quero rir
Deste adorno
No meu regaço
E dele beber
Até enlouquecer)
*
Há um fio no caminho
E buracos escondidos
Intrometidos
E sofro
Sempre que os meus passos
Se alimentam
Do rubro manto
Que escorre nas veias
Do meu cansaço
*
É ele o meu fado
Castigo
Tormento
Nascente e Poente
De um único ventre

domingo, 13 de setembro de 2009

Abismos

(Foto de Renato Fogal)

Vi-te hoje ao passar da esquina, enxovalhado, dobrado, encarquilhado, pela dor de não conseguires voltar a tua verdadeira face para a lua. São fases distintas que ela suporta nestes becos ensanguentados. Mas, nunca mostra ela também a sua verdade, nas noites em que uma das suas faces brilha sobre as águas que correm, serena e tranquilamente em baixo da ponte. Nesses escombros onde te deitas, já não há nada, a não ser um pedaço de chão que te aceita. De uma forma ou de outra, o chão que pisamos é de todos, mas aceitavelmente, pertence a quem por direito o ocupa, já que são as noites e os dias, os pilares que o sustêm. Há noites que são calmarias nos teus desejos, e dias que são como feixes de luz a queimar as entranhas da terra. Não sabes para onde te dirigir, e gastas o tempo a correr desenfreadamente, e sem forças para saberes discernir, se o dia ainda é manhã tardia, ou se a noite é ao entardecer, a caminhar para o abismo onde te deitas.

Lembro-me de olhar para ti, e tu sentado naquele banco de jardim, onde eu passava sempre acompanhada. Via-te, mas como não te conhecia, seguia o meu caminho, sempre na esperança de te encontrar mais à frente, quando tivessem cessado todos os olhares. Mas as vozes que te seguiam eram expostas às chuvas do fim do verão. Passei por mais um filão, e à beira rio, um beco estreito, que se deleita às costas de um sol que só espreita por entre as casas onde já nada sobrevive. Lamentos, choros de crianças e os pais são como os saltimbancos, em busca do pão que a seara já deixou de fabricar, faz tempo. Eu, inundava-te os passos de utopias, e lembranças de outros tempos em que também eu ocupava o mesmo chão.

Como sinalizar os espaços? Estremá-los de modo a que possamos ficar inteiros na terra de ninguém? Há só um caminho! Baptizá-lo e delimitá-lo com as marcas que os nossos corpos contêm. Os trajes verdadeiros são sempre manufacturados pelos olhares da alma, e vesti-la, é um gesto que nos cabe por inteiro, mesmo que nos falte um pedaço de chão.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Submundos

Neste mundo que nos rodeia, estamos todos de peito aberto a tudo. Mas será que esse “tudo”, cabe nos orifícios reclamados pelo que é verdadeiro e interiormente inteiro, ao ponto de nos transformarmos em nada? Ou será que esse “nada” é transversal, e somos só um mero ponto na cosmologia do tempo em que o verdadeiro “ponto” é o cosmos? Um verso daria para defini-lo aqui deste micro–ponto, mas, desordenados, “mal amados” e aclamados, caminham lado-a-lado, alguns versículos afanados, que prestam serviços ao mundo invertido.

Os dogmas instituídos!

Microcosmos sãos os instantes que o universo contém, desde o falso apocalíptico, até ao tudo universalmente aceite na nova era dos registos meramente informativos. As Instituições são um estado paralelo, entre a presa e o camaleão. Seres que se prestam a tudo, mesmo que o mundo se esconda nas crateras relacionadas com os diversos submundos. Bardos são os nomes que os sustêm - essas maleitas intransponíveis, levadas ao colo pelas “mães” que os geraram e criaram.

O que será deles num futuro, já passado?

Dilema

Em escala invertida
Sucumbem amores
Já cansados

Amostra de gente
Aparelhada
Sem nome
Natural(mente)
Aliciada
Desfigurada
Retorna à luz

(Virtual)íssimo
O ritmo cardíaco
In-determinado
Expira um único tema
(Um dilema)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Silêncios


Há nas memórias que guardo um certo rumor, de quando me cingia ao silêncio.
O nosso silêncio!

E há um sorriso silencioso na noite!

Se porventura o encontrares, diz-lhe que já venci o medo e que as memórias são agora só meras lembranças de quando nos encontrávamos em outros silêncios.

Esses, coitados, foram pela vida fora, à procura de encontros e nós ficámos até agora, sem vermos que esses mesmos silêncios levaram com eles os nossos sorrisos.

Caminhos


Este caminho que sigo, é onde me sento à espera do sol que agora nasce. Serviu de base para me orientar em outros caminhos.

Sigo-lhe os passos muito devagarinho…

Aguentei firme todos os arremessos do tempo. E gostei! A sério que gostei de levá-lo a caminhar sobre o meu peito. Mas, se soubessem como custa não saber sequer de que matéria é feito. Este caminho é cheio de nadas que eu mesma sustento. É inerte o tempo que gasto a caminhar contigo, mas mesmo assim, há um tempo no fim do caminho à espera do nosso encontro.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Outros Caminhos

(imagem do Google)
*
Caminho Sempre
Em sentido inverso
Alterando a ordem
Do sentido oposto
Até ao único ponto
Onde te encontras
*
Se (de)morasse
Mais um pouco
Veria em todos
Os caminhos
Outras direcções
Que me levassem a ti
*
Mas não!
Sentido, mudaste
As regras do jogo
E nesse labirinto
Perco-me nas vistas
Desse mundo
Que criaste

Vozes

(Imagem retirada do Google)
*
Essa voz que te diz de mim
Talvez seja
O caminhar do vento
Pela tua face
Ou só brisa que passa
Lenta e suavemente

Chegou mesmo agora
À tua presença
Inocente e bela
Veio de muito longe

Se quiseres
Podes sempre cumprir
A tua palavra
De me ouvires
Noutras vozes
*
Dizem-te de momentos
Sem tempo
E de um instante
No tempo que passa
*
Mas...
Ficas sempre esquecido
Quando o mundo
Te abraça

(Lembras quem eu sou?)