terça-feira, 29 de setembro de 2009

Cegueira (ensaio)

São lentos os meus passos nesta manhã de Outono. Não sei já decifrar, se o sol que vejo reflectido nas águas do rio nasceu hoje, ou o que ficou esquecido na berma da estrada. Nesta confusão, antevejo um sentido desnorteado, concomitante com um pensamento ancorado nas varandas de outras cidades. Abriram-se à corrente que passa e eu fiquei do lado de fora. Gritei e ninguém ouviu. Será que não me vêem nesta rua? É uma rua deserta e sem nome, eu sei, mas continua a ser a nossa rua.

Sempre por aqui passei e lhes acenei. Quanto desespero por aqui encontrei!

Caminho sem destino, já ninguém me vê. Existirei à transparência como a agua que passa? As chuvas chegaram mais cedo anunciando mudanças de estação. Quero encontrar o fio condutor desta estrada, mas a poeira acumulada, já limpou todos os trilhos que me levavam ao encontro de um poiso certo do outro lado da cidade. Neste caminho, algo me leva a concluir que já não mora aqui ninguém. As águas pardacentas carregam novos detritos, que não enxergo quase nada.

Estão lamacentos os meus olhos!

Atravessaram todos para a outra margem. Os vultos que passam são só meros portadores da nova desgraça que assolou esta cidade. Fingem que nada se passa por não saberem fugir ao esquecimento.

Darão guarida à cegueira que os abraça?

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