Enquanto o meu corpo se enrolava na noite por entre os lençóis, desciam na madrugada gotículas de orvalho miudinhas, e sem grande ruído, alcançavam as ruas desta triste cidade. É nas noites de insónia, que ouço com mais clareza os sons que me chegam, trazidos pelas brisas outonais. Esta é a voz primordial, que me conduz por becos onde já nada acontece, a não ser alguns pingos de luar, a descansar ao relento nesta manhã de fim de verão.
(Não há como permanecer acordada durante a noite e viajar ao encontro do fado, que de tão cansado, adormece num canto enjeitado)
Até os muros adormecem, ouvindo este cântico negro! O trajecto matinal é contínuo e vai quase sempre ao encontro do sol nado e criado nas correntes que o Tejo abraça. Têm sempre um destino traçado. Fiz um acordo com o acobreado do rio, de sermos um par acordado e vigilante na noite. Um olhar preso a esta maravilha que é acordar para o mundo. Vejo-te todas as manhãs, neste meu trajecto, mas tu não sabes os caminhos que tenho que percorrer para chegar a ti. Outros olhares misturam-se nesta confusão de gritos ocultos nas madrugadas, que sou como uma dessas gotas de orvalho, adormecida na relva tosca de um relvado abandonado. Careço de mais um pouco de sol, para me desprender desta pétala esverdeada. A sua cor desvanece-se nas pedras da caçada.
(Tanto muro, quanto betão. Tanto chão, quanto ruído e eu sei saber dizer não a este sol que me atrofia a visão.)
Há no silêncio da noite um olhar fecundo nos caminhos onde morou a ilusão. Fruto de alguma emoção, foram-se as palavras que contaram sobre histórias de rostos sem nome. Vagueiam sonâmbulas por cada canto Já sem qualquer pingo e razão.
Ouves a minha voz? Ao menos sentes que se distancia destes muros de betão, para te contar de uma noite, onde me mantive acordada, por saber que estavas abandonado num qualquer chão?
Ouves a minha voz? Ao menos sentes que se distancia destes muros de betão, para te contar de uma noite, onde me mantive acordada, por saber que estavas abandonado num qualquer chão?
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