sábado, 20 de março de 2010

Rituais Esquizofrénicos


“Sou crente e sonho com um mundo redondo, geometricamente perfeito" (José Luis Lopes)

Na forma como vemos o mundo, já existem novas formas pensadas e ajustadas ao novo mundo. Contudo, não temos ainda olhares prontos para o fixarmos num ponto e o elegermos, através da forma que podemos e sabemos…

Glorificamo-nos, sempre que das nossas mãos escorrem pétalas em formas de palavras, fazendo jus à nossa própria existência; falhada umas vezes, engrandecida outras tantas, mas nada fazemos para adubar a terra, e dela retirar a substância que nos fará criar e engrandecer os momentos dignos da nossa própria aceitação, em liberdade e fraternidade. Caminhamos por forma a conseguir sobrepor as ideias a um único pensamento, mas ele, pobre como sempre o mundo o viu, aconchega-se ao denominador comum de alter-egos esfomeados. Abriram-se os portões à amplitude de um universo restrito de palavras vãs, no entanto, muitas diferenciadas, escancaram ao mundo, os restos mortais de alguns egos carenciados do alto, por não saberem aceder-lhes na sua forma mais pura. Copulam-se nas vertentes mais enganadoras, vivendo segundo rituais esquizofrénicos dançando e rodopiando em moldes contínuos, encurtando os movimentos sobrepostos aos nossos pés.

(Ausentes de novas formas, despem-se sobre um circulo fechado, mas caracterizam-se pelos novos modelos, que se encurtam nas distâncias de um caminho sobreposto )

Há noites, que tenho no corpo aquela doce lembrança, de quando me cingia à noite e a convidava para dançar comigo nas ruas desertas da minha cidade, mas ela, desgostosa dos dias passados, assumia-se presa à escuridão nocturna, e ali se fazia passar por mais um dia no seu términos. Vertigens enganadoras trazem-nos o mundo cortado em pedaços, e nós sempre que o abocanhamos, abastecemo-nos de gotas perdidas de orvalhos, que se prendem às novas correntes e que se preparam já para lançar mão dos nossos corpos disseminados.

In A Voz do SiLêncio (foto Dolores Marques)

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