segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Há Sempre Um Novo Amanhã

Se pudéssemos continuar caminhando para a unicidade tripartida de um Deus na bem-aventurança de um mundo que nos quis, não nos afastaríamos daquele que nos recusou, por não sabermos dignificar um outro que nos uniu um dia. Incendiou-nos de dor. Aquela dor que arrasa tudo, e nos acomoda num único lugar - o da nascença, pertença nossa num ventre resguardado só para nós. É esta a dor que s’entranha nos nossos corpos, uma mudança de estádios de um amor que sempre nos uniu por não saber como existiu unicamente para nós.

Caminhávamos lado-a-lado e a praia que nos acolhia, sempre ali estava, disposta a tudo nos nossos corpos doridos nos nossos rostos sofridos. Contou-nos da gigante revolta no mar, das tristes dunas, das marés negras, dos temporais antigos e nós ouvíamos atentos o desenrolar do tempo que nos acolheu sempre e nos guardou segredos que nunca ninguém ouviu, que nunca ninguém sentiu. Seríamos um só movimento, nos círculos fechados de um mundo que se quebra sempre em pedaços nas nossas mãos, se estivéssemos juntos como quando passámos a barreira do tempo, lá nas encostas de um morro abismal, onde nos deitamos à espera que o sol nascesse, na certeza de que seríamos mais do que dois corpos à espera que o mundo baixasse a nossos pés.

Mas não! Nada nos impulsionou nesta comunidade viva, nesta inconsequente variação do tempo. Só restou um único momento intemporal, aquele que nos juntou e o mesmo que nos afastou para longe da pia baptismal. Aconcheguei-me a ele, numa incerteza dorida de nada mais conseguir saber, de nada mais me levar por caminhos outros, onde caímos todos ao mesmo tempo. Há quedas assim, que mais não são do que meras ilusões perdidas em rostos caídos, e seremos sempre um caminho a seguir para nos defrontarmos com todos os carismáticos eclesiásticos, os alicerces que nos edificaram um dia . Desde que me identifiquei com as incertezas de eras comuns à minha nascença, me edifiquei perante um mundo escancarado para outros mundos nossos que nos seguiram os passos. Há sempre um novo amanhã, e desde que a terra se movimenta em círculos, que a atmosfera se desprende do vácuo, desta irmandade circundada por viagens no espaço. Há um passado morto nas encostas de um novo futuro, e ele está agora preso a nós, se nos focarmos num único ponto. Seremos sempre unificação presente, e os vértices que se assemelham a pontos no espaço, serão unos em todo o amanhã....
(Foto Dolores Marques)

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