quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Verticalidades (Para JLL)


Há esperas, que nada mais são, do que fugas permanentes entre o querer e o ser, na veracidade das palavras. Serão elas um meio para atingir certos fins, sempre que vierem carregadas de imagens que transcendam a nossa postura erecta. Contudo, há na verticalidade dos nossos gestos, uma figura abstracta, e será sempre ela que nos dará um certo estilo para a composição métrica de um bom tema, em perfeita comunhão com o sentimento que se sobrepõe à razão da nossa própria existência. Que o preenchimento dos espaços em branco não deixe margens para dúvidas, pelo que nas margens também se escreve, e muitas vezes por temor aos cursos dos rios, que silenciosamente, passam sem retorno, virando costas e fomentando a postura horizontal, mais apetecível às correntes baças e taciturnas.

Há nas palavras escritas, um toque especial que nos toca fundo, e há vozes premeditadas em que o som, é uma nota solta à espera do tempo certo. Será mesmo esse o que me desperta para um encontro, onde o tempo colide com a espera e nada mais fará prever, que há um tempo certo para cada encontro. Numa dimensão mais cuidada, onde somos à transparência, um só corpo, que se movimenta num espaço aberto, há também um ponto minúsculo que separa, as pontas de um espaço fechado. Aí, teremos as mesmas distâncias coordenadas por uma única aberta no tempo. Trancam-se as vozes perdidas, movimentam-se as sombras que abraçaram em tempos palavras ocas – vácuo onde existia a formação do ser na forma original. Paradigma da inteligência criativa e sonora numa escala deveras inquietante, que me faz partir para lugares incertos. Será sempre essa espera, o preenchimento de pontos vazios num espaço cuidado e assertivo para que as mensagens não falhem, permitindo que não se espalhem como grãos de areia num deserto feito de esperas.
Os nossos tempos são unos nas distâncias que nos separam. Os seus propósitos caminharão ao lado de algum sentimento, virão a seu tempo e nos dirão de nós num tempo sem tempo, mas com todos eles alinhados e depositados num único olhar. Caminho contigo em busca de outras eras, que nos transformem, que nos digam de nós num movimento constante, por onde se soltem partículas de um sonho prestes a acontecer. Será ele, a fuga que pretendemos, quando nos comunicarmos em silêncio e nele nos encontrarmos uns e outros, mas todos UM.

*******************************************
Texto dedicado a um poeta e amigo, José Luis Lopes acerca do seu poema "O Grito"

(foto minha - fim de tarde junto ao mar)

1 comentário:

  1. Lindo texto, muito profundo, para ser lido nas entrelinhas.
    Gostei, embrenhei-me nesse tempo de palavras.

    Beijinhos
    Sonhadora

    ResponderEliminar