segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Que Culpa Tenho Eu?

(Imagem Google)
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Quero ir por todos os cantos da terra em busca de paz. Daquela paz que eu mereço, como naquele tempo em que me via a percorrer todos os caminhos e nada fazia prever esta mágoa que carrego no peito. Se no meu imaginário, houvesse vidas ainda por chegar, seriam almas num movimento constante, abraçando o concreto e o absoluto e negando o abstracto e o irreal. Há movimentos em círculos fechados que se caracterizam pelas inconstantes movimentações das horas retidas na noite e se retraem num corpo só. Diz-me o que te apoquenta, conta-me tudo o que passou num outro tempo, em que nos retivemos nas margens do rio. Secaram todas na volta dos ventos, quando tu te viraste contra o sol. Não há culpados, não há usurpados, não há castigados nem vultos sombreados, mas tão somente, mentes que se gastam num mundo cortado em dois.
(Que culpa tenho eu se te apunhalaste a ti mesmo, e te mantiveste trancado tanto tempo, sem veres a luz do sol?)
Sabes que estes impulsos norteados e desgastados pela erosão do tempo, deixam marcas pelo chão, mas nunca o poderás saber, se as tuas marcas já vierem de muito longe, num tempo em que se gastaram os gestos e se demarcaram os sorrisos num único rosto prostrado no chão. Continuas a escrever as mesmas letras com figuras bélicas a riscar os papéis da memória, mas não sabes somar os tempos em que fomos um, e nos dizíamos de todos, na abertura dos momentos áureos, fechados há tanto tempo nas catacumbas dos sonhos. Lembrei-me de todos os anos que passaram em que escrevia para ninguém, e me limitava a reescrever, certos olhares que trajavam o teu corpo nu. Fechava os textos que te descreviam com pontos finais e avançava sempre na direcção de um ponto que me iluminasse o rosto, para te poder enxergar na luminosidade de um sorriso aberto. Sorria sempre que te via chegar. Mas indiferentes, são outros sorrisos que são portas semi-abertas em templos gastos e abafados pelos olhares perdidos e presos às lâminas que cortam o ar que respiro. Será ele sempre respirável e abomináveis os capítulos que se mostrem indiferentes à nossa história.
(E há histórias que merecem ser contadas e arrastadas pelos quatro cantos do mundo)
(“A Voz do Silêncio”)

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