terça-feira, 26 de maio de 2015

Dimensões V - PAZ



Quero-me na tua paz, um sorriso mesmo que distante.
Serei doação perene de sentimentos vivos, a cair na tua boca.

Falas e eu calo.
Andas e eu paro.
Sorris e eu choro.
Cantas e eu blasfemo.
Dormes e eu finjo ter sono nos braços teus.
Sonhas e eu carrego os fardos de sonhos meus.

Porque não vejo as estrelas quando tu vês o céu?
Porque durmo quando viajas sobre um mundo meu?

Seremos um, quando nos ouvirmos no banco dos réus, e as águas nos lavarem os pés cansados das noites em que havia fagulhas no céu.

Afogo-me nesse leito onde deponho as armas, sempre que do meu sonho me levanto, e te procuro nesse mar cansado onde descansas o teu.

Quisera fazer do meu corpo a sonoridade do tempo, para no teu me encontrar quando a morte me vier visitar.
Pudera morrer de mãos postas no vento, amarrá-lo ao meu corpo e levar-te comigo. Ser santidade num olhar que se perdeu.
Quisera ser na tua boca, uma só noite em que sobre nós o inferno desceu.
Pudera castigar-me nos momentos em que fujo de ti, sem saber onde me perdi.
Quisera fazer da sorte que me calhou, uma fogueira no meu corpo, quando da tua boca bebi, e me fiz nascente e poente num sono meu.
Pudera molhar o meu corpo, de doces lembranças nossas quando o rio se escondeu.

Serei a paz que procuro, sempre que no teu corpo encontrares o meu.
Serei a paz que mereço, sempre que na tua boca me levares ao cabo do mundo.
Serei sempre eu, quando de mim arrancar a arte de bem namorar um sonho que se perdeu.

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