quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
O Amor
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Chá Para Dois? (P/Anamar)
Sei do quanto amas intensamente a vida
Mas tu sabes que jamais ouvirás os sons da alma
Se não amares para lá da vida
(Mas…
Para quê inverter o destino
Submeter-nos às doces maravilhas do mundo
Se ele sofre no nosso colo
Inanimado
Calado
Ensanguentado
Sucumbindo até num novo alvorecer ?)
Sei-te mais que uma só Mulher
Viajando nos sonhos teus
Para me encontrares nos sonhos meus
Mas olha as várias luas que te abraçam
E o deserto que te suga os poros húmidos
E te realçam a aura límpida
Aglutinada pelos mares de outrora
Há um silêncio esmiuçando a vida
Que dedilhas sempre que olhas o céu
Há um deserto afundado
Nos rios que correm para o mar
E esses já te conhecem
Através de um novo olhar
Bebe deste cálice
O suco que te adoça os lábios
Iguarias trazidas das profundezas dos oceanos
Só para ti
Chá para dois?
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Avatar

Estou camuflado
Vagueio inerte entre um e outro sonho
No meu corpo ficaram as veias
E um sono dormente associado
Ao meu sangue quente
Abro os olhos
Vislumbro novos caminhos
E sinto este frenético toque no meu peito
É este o mundo inteiro que me viu nascer
Mas…
O outro que passou a barreira do tempo
E se aquietou num outro espaço
E cai moribundo do lado de lá
Sempre que meus olhos
Se abrem do lado de cá?
(Escuto sons
Sinto náuseas,
Tantas aflições
Grilhões nos pés
Já nem sei quem sou)
Tantas dores na lentidão dos meus passos
E esta brisa suave
E esta claridade esvoaçante
Vinda das montanhas
Que flutuam no céu
Alterando-lhe a cor original
Há um fogo inquietante
Há outros céus e estrelas cintilantes
E sombras bélicas que caminham sobre o véu
(Céus ! Que magia sofredora
Que invenção
Caiu na minha mão?
Como seguir-te neste amontoado de pétalas brancas
Como alcançar as almas adormecidas
Sementes enriquecidas
Tresmalhadas
E esquartejadas
Pelos gigantes que rasgam o céu?)
Serão outras forças
Invenções
Constelações
Migrações
Avatares pelo mundo
Que Zeus não conheceu
*
(Inspirado no filme Avatar)
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Rebanho Multicolor

*
Idolatram-se
Perdem-se
Encontram-se
Concretizam-se
Em frente das multidões
Carentes de um novo mundo
Soerguidos do nada
Que lhes resta
Vão contornando as contas
De um rosário às cores
Predestinados os caminhos
Já não vão ser precisos
Tantos sorrisos
Sucumbiram à nascença
Enquanto os rebanhos
Se alimentavam
Dos seus próprios excrementos
E a terra se adubava
E esperava por novos
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Predadores
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Sucumbiu Um Alento (P/José António Antunes)
pelos navegantes dos mares
elas, as terras seriam mais recatadas
quando da força dos ventos
e deixariam de ser trocadas
por uma qualquer maré negra
arremessada por um qualquer
pé de vento
Se por um acaso me esquecer de ti
à porta de um moinho ao relento
e através da força motriz
me entregar à brisa quente
não fui que me fui
Sucumbiu um alento
*
Agradeço a inspiração num outro de José Antunes aqui:
http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=16895&com_id=63082&com_rootid=63082&com_mode=thread&#comment63082
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Trilhos (P/Vânia Lopez)
e os dias passam desnorteados
Sem eira nem beira
acostumados a serem um só
nos trilhos pensados
ficam sós nos telhados das casas
enquanto a noite adormece no teu sorriso
*
Agradeço â Vânia pela inspiração aqui:
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=108699
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Desejos Eruditos (P/Vony Ferreira)

Esta ligação às palavras
Findo este tempo há um começar de novo
Com novos temas e novos versos declamados
E aclamados aos quatro cantos do mundo
Caminhamos sempre no sentido inverso,
Àquele que nos é mostrado no decorrer dos dias
E somos sempre figuras abstractas
Lentas no deslizar das horas
E há um verso ameno que nos afaga a alma
E um poema inteiro na multiplicação dos dias
São sentimentos que brotam do peito
Como cultura fértil adubada pelos olhares
De um mundo que vive de memórias
De farrapos gastos nas noites frias
Encostados aos muros de uma cidade em festa
Sei que me vestes a pele de canduras finas
Mas também sei que me queres perto
Tão perto como os teus olhos estão da tua visão do futuro
Que se encosta sempre aos tempos idos
Que de uma forma ou de outra é leve, muito leve
Não sei já decifrar o que me tem presa a ti
Se este fardo antigo que viaja comigo
Renegando a força que me pesa nos ombros
De te ser um desejo subtraído à dor que carrego
Mas sei também que te quero muito
Neste vai-e-vem cantarolado nas noites
Em que te dispões a ler-me
E a sentir-me na agitação das minhas palavras
Sou eu neste desassossego inteiro sempre que amo
E amo…
Sempre que a minha alma sente
Que fazes das minhas palavras as tuas palavras
Na construção de um mundo novo
Onde sou mulher fora de tempo
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=109127
domingo, 29 de novembro de 2009
Viagens
Nos ventos tardios
Subi tímida
Às cascatas
Dos teus olhos
Revisitados
Pelas nortadas densas
E povoados raros
Cantei-te poemas
E adormeci na tua boca
Quente…luxuriante
E revi-me nua
Em outros tempos mortos
Nas masmorras do tempo
Visto-me de outras eras
Na longitude da luz
Sou reflexos mistos
Silhuetas uniformes
E perpetuo-me sempre
Que m’adentro
No teu ego ferido
Contigo sou todos os nomes
Que conheço
E até aqueles
Que me abraçam
Sem idade
E quero…quero muito
Que me leves
No teu mar
Em noite secas
Que transformarei
Em mil pedaços
Para te mostrar a vida
E o amor que ainda
Vive em mim
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Mas Eu, Já Sem Vontade

Custa-me tanto ver-te
Nesse estado anémico
Absorvendo o vento
E o que ele te traz
Talvez seja
Uma carta aberta
Ao destino
Ou um sabor da vida
Como sempre faz
Ou então será outra dor
Que deu á costa
Costumeira
A cair-te nos braços
E em teus versos se refaz
E eu, já sem vontade alguma
De te ver nessa luta diária
Errando os passos
Dedilhando notas soltas
E parafraseando o tempo
Há muito tempo atrás
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Vem Caminhar Comigo

Quero ouvir-te em histórias antigas, mas cantadas nos telhados das novas casas, a abafar o bolor característico dos espaços fechados. Por isso, me dou às cegas pelas pradarias longínquas, onde há ecos mudos e um sol que nasce sempre que a noite é finita. Só aí, há um cântico aberto ao mundo que me escuta e que sustenta as lágrimas que se despenham nas minhas mãos. Há um misto de saudade que se esvai por entre os dedos semi-abertos e não sei já falar, desta dor que me consome o peito, quando me dou inteira a ti.
Sôfrega do mar, fugi para longe, e dirigi-me para sul. Lá os sonhos são mais azuis e as gentes vivem na calmaria de desejos mais ou menos cristalizados. Sofrem as dores de parto antes do tempo, e as forças benignas trazem cantares longínquos de outras eras, em que os registos passaram de mera informação, para uma profunda constatação dos factos reais, em que o equilíbrio, não passa já, de manufactura do acaso.
Afundei-me nesse mar que vi!
Mas, sofro neste silêncio amarfanhado, sempre que o fardo dos anos me deixa morta de cansaço e desprendo-me das horas todas, em completo desleixo. Caminho agora sem destino, e há um som perdido que me encontra sobre esta medida exacta, que é o mundo no sossego das minhas mãos. Ele diz-me sempre como chegar ao topo, mas lá, há estrelas cadentes que se esfregam nos meus olhos, e a cegueira traz-me imagens doentes de quando o mundo sofria. Sofria tanto, que até os olhares que carrego me abominam em cada círculo, geometricamente traçado à roda dos meus olhos.
Triste sina!
É fria a sua voz, e caminha cansado do destino que lhe coube á sorte. Há sortes assim! A minha ainda não foi lançada, para que no meu ventre, encontre a essência desmesurada e te entregue a noite assim, cansada de mim e do nada que fui, enquanto dormias. Assim, vou deslizando, lenta, mas caminhante, através destes movimentos obtusos, e paralisados através do medo que me rouba o sono. Os candeeiros apagam-se, e a noite finda, volta ao seu estado original. Há um protótipo do vazio esperando por nós, e na matriz, jaz o cálice da vida que carrego há tantos anos.
Quero-te muito, mas não suporto este fardo antigo. Vem caminhar comigo
Sou Alma em Ti
Se estivesses mais perto do mar
Verias o ar que encerra a noite
Quando os teus olhos
Mergulham na escuridão
E um rio que espera em vão…
Há um sonho a tender para o infinito
E um corpo estendido na areia
Há uma brisa suave
Arremessada pelo vento
A adormecer no horizonte
A espuma salgada
Molha-me os pés descalços
E o azul do mar pinta-me magro rosto
E eu, em outro tempo,
Um corpo só no teu regaço
Agora, há outra força que caminha
Há a maré desvinculada
Deste mar que me veste a pele
Sou alma, sou fé no cais,
Estou perto de ti
Libertei-me de mim. Sofri!
Por reter passagens breves
Mas muito leves deste mar
Onde nasci e vivi
Quase adormecida no convés, sem ti!
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Uma Face Minha, Um Toque Teu (dueto c/Jomasipe)

e uma areia infinita nas lágrimas molhadas,
um amor cansado, quente, amanhecido tarde,
uma vontade que ama,
me alimenta,
me junta a ti,
na incandescência das marés revoltas em dias de temporal...
Há uma triste sina envolta em dias cinza
Uma cidade que me ama e me deseja
Sempre que ao virar da esquina
Te encontro nesse mar que caminha
Por entre os escombros do meu leito morno
Quantos caminhos percorro até chegar a ti
E no horizonte há um olhar que anoitece
Há um caminho oculto, nas moradas abandonadas,
um mar envolto em chamas,
uma nebulosa, ofusca no céu molhado,
uma cálida manhã de Primavera,
uma face minha, um toque teu.
Há uma mão tua em mim,
que não me larga e que me abrasa.
Há sempre a livre vontade de ir mais longe
Há nas nossas mãos letras pequenas, benfazejas
De quando era uma triste menina
A acordar nos teus olhos
E fui-Te mar cansado, obra minha
Ter-te em cima como em baixo
Será o remanescer calado no meu ventre continuado
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Cansaço
O que à minha volta mexe
E nas incertezas
Há a inércia do tempo
Sinto-me vazia de ti
De mim
De nós
Enfim cansada
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
O Mundo para lá dos espelhos

Sabes como passo as noites?
Lembrando e reconstituindo cenas, descodificando os teus sinais. Passearam-se pelo véu que me cobria o corpo, sentia-o leve, muito leve e a maciez bailava no meu corpo que se encontrava lado-a-lado com as estrelas esvaídas a nossos pés. Lembro-me bem do teu sorriso, sempre que me aconchegava num manto dourado que me conduzia sempre para o mundo para lá dos espelhos. Reflexos de um mundo onde coabitava a dor entre os escombros. Há um perigo eminente em cada esquina dobrada, em cada mácula disfarçada, em cada momento calado, em cada corpo mal amado e em cada rosto mal tratado. Já nem o nada me aceita nestes submundos onde habita a minha alma disfarçada, mas há nesta cidade, um caminho íngreme que se põe sempre a descoberto. È só aprender a escalar montanhas, e a facilidade com que o dobramos é aos olhos de mundo pintura abstracta, em rostos sem nome.
Tento que a minha sede seja saciada, quando te encontrar nesses recantos onde dormes há já tantos anos passados. Não me lembro de nada que me faça voltar a temer por gestos inconsequentes, quando ainda era só centelha vazia no fundo da tua alma. Foi ela que me lembrou que saí deste ventre imaculado. Sabes que há certezas que nos alimentam esta vontade de ir ao fundo, e estes submundos acorrentados já me acolheram em tantos voos, que mesmo sem vontade, deambulo sem destino. A luz que me alumiava o caminho está frouxa e eu não sei como abrir as portas à luz que amortece no meu olhar. Se quisesses seríamos a lucidez e paralelamente alguma certeza de cairmos nos braços de uma noite só nossa. Crescem-me nas mãos as flores que pisaste, quando interrompeste o nosso destino e há caminhos soltos na aridez das fragas soltas que se cobrem de gotículas roxas que carregas nesse fardo leve.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Náufragos (p/Joma sipe)

(Recomeço sempre que te ouço chegar)
Continuo desbravando o Sol intenso do teu olhar. Fecundei-o no meu peito, em dias sem sol no mar. Há neste caminhar, um encontro que se avizinha numa imensidão de vastas planícies que emergem para lá do firmamento. Caminho sempre rumo à liberdade do Ser e entre as férteis searas relembro sempre o teu rosto magro, enfeitando os meus dias. Há na luz que me alumia, um pacto trazido pelas estrelas que caíram um dia.
(Lembras quando foi que nos beijaram e nos conduziram para sul?)
Ficaram os ornamentos e partiram os desejos de ti em mim. Porque será que secaram todas as rosas que plantei nesse jardim? Porque me tomas desse jeito anémico se sou já a fuga nos caminhos que trilhamos? Há na candura da minha alma, um apagão...Já nada se move e nem as folhas secas no fim do verão...Sou só brisa que abraças...
Há em cada palavra tua, a respiração certa para te afirmares na força das marés, nesse encontro que te espera no lusco-fusco...Semeias a luz por onde passas; em cada sílaba, em cada verbo, em cada sol posto, e até na ausência de luz, esse teu cansaço reluz.
Toma-me neste abraço, partilhando comigo as noites que velam por todos os náufragos. Há vidas por descobrir nas luzes da ribalta, mas dessas já te esqueceste porque existes na tua própria luz. É nela que me encontro, sempre que habito um lugar disforme na terra que me viu nascer antes do tempo. Tenro de idade e de vidas deixadas noutras eras, te volveste interno ao ventre que te viu crescer. Diz-me de ti nesse mar profundo onde habitas que te quero encontrar para lá de mim. Dá-me só um sinal, que me quero ver no teu corpo a caminhar por sobre as vestes que carregas. Serei amante interna do teu querer renascer de novo...
Aguardo que te acomodes nos meus olhos

quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Encontros

Serão eles que nos ligarão á nova terra onde se misturam todos os olhares trancados, todas as bocas famintas, todos os abraços maculados... Escondem-se nesse ermo onde existes só, porque te excluíste deste círculo, onde guardo todos os teus sorrisos. Há pelo menos duas condições para os encontrar e os encostar ao silêncio do meu corpo;
uma será sempre nos segredos guardados na toca do mundo,
a outra será sempre num olhar esquecido na penumbra da noite.
Mal amanhados, os feixes de luz que carrego nos ombros. Deixei-os deslizar por entre os meus braços nus e tu conseguiste alcançar a terra infame, onde os habitantes se perderam da chama crescente.
Seria assim que nos veria neste novo encontro;
tu continuarias pena leve voando no Universo,
eu seria quase sempre eco perdido na aridez montanhosa, grito confuso nos adornos quentes do teu leito.
Os sons ecoam livres à passagem da aurora. Tu e eu alcançamos os diferentes enigmas que deslizam pelas cores imaculadas.
Coitados, se nem costumam dançar a par com as estrelas
Os Nossos Olhares Tocam-se na Força do Ventos (Dueto com Jomasipe)

arranco-te dos sepulcros e aprisiono-te a mim,
gelo-me por dentro, silencio a dor,
ceifo as amarras ocultas e misturo-me contigo.
Acalento as brasas nos portais do espírito,
trespasso as colunas no templo interior.
Dou-me com os ciprestes e as aves selvagens,
dou-me contigo, numa miragem de fogo eterno.
Avisto-te ao longe e finjo ser outra !
Oferto-te a nudez plena da minha consciência,
na purificação da minha alma,
desprendo-me de mim
e arrumo a bagagem pesada que carrego.
À transparência me denuncio
na minha demência.
São eternos os gestos que gastei no templo.
Os nossos olhares tocam-se na força dos ventos.
Foi lá que gastei todas as imundices trajadas,
no rigor dos tempos,
e estou a um passo de me trair contigo.
Cansei-me dos olhares calados e moribundos,
ardi nos lampejos nublados, crepúsculos inocentes.
Para que serve a chama alada, a purificadora da manhã,
incensário abandonado, fumos que já não se sentem?
Cantei-me a mim mesmo para afugentar o silêncio,
busquei-te nos bosques penetrados no fim da tarde,
Vem, sacia a minha boca com frutos doces,
dá-me do teu mel, cultivado nas colmeias em ti.
Caminho em teu rosto curvado!
Vê como se alonga este meu passo na divisão dos medos.
Se soubesses como quero penetrar na tua boca quente,
desprender-me desta teia amargurada…
Há doçura estendida nos lagares da minha casa
e beijos calados no meu regaço
Mas é na imensidão do teu colo que me abro a ti
Sou gruta aberta nesse mar calado
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Versos Nus...
Envoltas num manto leve de poesia
Que me farão escrever...
Sobre a alegria
Mergulhada na penumbra dos dias
Serão sempre os rostos caídos
Em mortalhas saciadas
Da fome de corpos sãos
E da sede de bocas loucas
Que me farão escrever
Serão cânticos na noite
Versos nus na tua boca quente
Flores perfumadas
Em jardins inventados
Serão sempre feitiços quebrados
E nós seremos uma só palavra
A brotar da terra
Raízes secas no calor
De bocas adormecidas
Até à chegada da primavera
Afagos

Lágrimas correntes
Orvalhadas
Dissecadas
Disseminadas
E eu sem um poema
Para tas descrever…
São como os gestos gastos
No silêncio das palavras
São veios carregados de suor
De corpos sofridos
Da dor do amor
Que nunca foi
Senão uma fonte
De gotículas em cascata
Pelo mundo dos meus sonhos
Loucura é saber dizer o que não quero
É escrever-te versos
Que te mentem
E te sangram por dentro
Loucura é caminhar no tempo
Em que as palavras eram ternas
Afagos soltos pela manhã
Ameniza este sentir
Este corpo que sente
Que nas palavras há tanto
Mas tanto medo
Que se revezam sempre
Nas noites em segredo
Escrevo-te agora
Neste bailado acrobático
Onde as palavras ganham formas
É Ser EU e TU
Sempre que às portas da morte
Nos encontramos
E ainda assim sorrimos…
Unificação

No universo translúcido…
À imagem de ti serei unificação
Nos ecos do tempo
Nas minhas mãos em sangue
E perder-me-ei nas sombras
Da inexistência
Mas serei sempre
Na transparência dos dias
E nas chamas
De um sol resplandecente
Uma só imagem
Na corrente que passa
Vês-me daí?
Desse céu, desse mar,
Terráqueo num movimento circular
Ouves-me no meu lento caminhar?
O Manto dos Deuses

Matar estas necessidades básicas, é sentir na comunhão da alma que já nada sobrevive, se cair sobre a terra esta paixão que me queima por dentro. Matar a sede com absinto, é uma constatação de que a alma é uma guerreira libertadora dos prazeres comungados na dor e na exaltação de um corpo coberto com o manto dos Deuses.
Há no silêncio da noite um som que se esmera e se enquadra neste olhar perdido. Fui ver-te passar de longe mas não viste o meu abraço envolto num xaile de seda pura. Assim são os braços que te acolhem sempre que há momentos esquecidos de nós nestes becos escuros, nesta cidade fantasma.
Olhares Cativos

sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Decadência
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quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Não Morras Já

Caminho sem olhar para trás. A minha sombra quedou-se na penumbra deste silêncio corcunda, que desliza por sobre os telhados partidos das casas. Mesmo assim, de lá, consigo ver uma nesga do céu que se encolhe em meus braços, e me levanta das mãos os estilhaços ainda em sangue das vidraças que partiram e rasgaram a minha pele sofrida. Continuo esta senda na humidade da noite que é tão longa nesta praça.
(Queria tanto oferecer-te um sonho daqueles que nunca ninguém viu, mas todo o mundo já sentiu)
Ouves os meus passos ? Caminham certos mas sem retorno, nem fadiga de tanto desconsolo neste chão. Espero por ti. Não morras já que me quero ver nos teus braços enlaçada. Quero comer do fruto maduro, rebolar-me no teu peito, e sobre a terra, estender o meu corpo nu, ao encontro e um sol nascente. Cavo todos os torrões, até encontrar a semente que lancei, quando ainda éramos loucos por sargaços e enseadas neste acentuado cume.
(Farei rolar sobre a terra todos os sóis esquecidos no meu olhar e as casas voltarão a abrir as portas ao teu sorriso)
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Calem-se as Vozes

E construam-se novos temas
Em terra fértil de sonhos
Calem-se as vozes
E continuem a dobrar-se os sinos
Tolhidos das igrejas
(Sabem quando foi a última vez
Que tocaram às almas?)
A terra tremeu de frio
A vontade foi de fio a pavio
Maresia solta
E eu acolhi-te à minha mesa
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Coisas Outras, Sonhos Muitos

Das entranhas de quem ama
E se desnuda
Arrancando das mortalhas
Outros voos
Outras sortes
E os malfadados anseios
De quem não sabe
Que a sensatez é suave
Mas pobre a mesquinhez
Que se encontre
Nas palmas de suas mãos
Em outros escritos
Outros motes
Desliza no meu corpo
Brisa suave
Dando forma aos actos
Mitos de outros fins
Na loucura outras bocas
Abocanham insaciáveis
Outros choros retardados
E o verão que não chega
Pra lavrar a terra
Onde semeei a utópica realidade
De coisas outras
De sonhos muitos
Por mim esperados
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Rostos Sem Nome

Já não sei que faço nestes caminhos cruzados. Impera um silêncio mais que balizado contra os muros da minha cidade. Aqui há marcas de nós que anunciam a chegada de invernos tenebrosos. São eles que nos lembram dos caminhos que temos ainda que percorrer até concluirmos um processo que nos fará nascer de novo do mesmo ventre. Cairão por sobre a terra, todos os estigmas afundados no deserto, quando ainda não sabíamos onde iríamos depositar os olhares nocivos de um verão quente e abrasador.
(Esquece quem sou. Encontro-me já no limite imposto por ti na roda da vida.)
Há sinais continuados numa rua deserta e um olhar perdido à procura de um rosto sem nome. A esta distância já nem se vêem os holofotes que se dispuseram a alumiar os nossos passos. Sempre que os nossos caminhos se encontrarem, haverá de ser à chegada da primavera, numa sequência de imagens soltas, pinceladas com as cores índigo em noites brilhantes de lua cheia. Acerquei-me destes tempos em que meus olhos foram retendo as lágrimas por ti saciadas. Sofri por nós neste registo afundado, e tu nem deste por nada, tal era o mar revolto em teu corpo amaldiçoado.
Somos um só corpo e um olhar desfocado no horizonte. Lá, chegaram já todas as estrelas, mas o mar continua parado à espera do encontro final. Tu não sabes para onde vou sempre que me encontro acompanhada, e eu, opto por ficar sentada, esperando que um fio da noite me ligue a um outro ponto desta cidade.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
À Flor Da Pele
domingo, 4 de outubro de 2009
Só Palavras
Palavras que se esvaem
Na profundidade
De um verso ritmado
Onde o poema se dita
Em plena consciência
De quem sente
E sabe que simplesmente
Serão eterna(mente)
Só palavras
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Os Deuses e Eu
Com esta loucura
De ser só um mito
E no desenlace
Lembraram à lua
Em versos que tais
Que o mundo marcou
Os sonhos desiguais
A Voz do Silêncio

Ouves a minha voz? Ao menos sentes que se distancia destes muros de betão, para te contar de uma noite, onde me mantive acordada, por saber que estavas abandonado num qualquer chão?
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Cegueira (ensaio)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Miragem
Gosto de sentir esta adrenalina no corpo, de te saber um único caminho na poeira da estrada.
Foi apenas miragem que passou, e já não temo por quase nada. Voltei a mim no dia em que partiste e fui só um dia, lágrimas no teu rosto. Nem sabes as cores que contêm quando se entregam a troco de nada. Foi talvez uma pincelada de ar fresco que na manhã desceu sobre o rio e me afogou esta mazela engasgada.
Subi ao cimo do monte e só vi uma estrela acorrentada pelas marés vivas. Avivam-me a memória sempre que me tocam as pontas dos pés e me levantam de pé sem mais nada. As vestes já foram rasgadas, o corpo amoleceu com a tua chegada, e tu contaste as bravuras que alcançaste nessa estrada. Já foi minha um dia, mas lembro agora, que quando partiste, fui só eu que me lembrei da tua morada.
Desapego
Num vazio igualitário
A léguas de ti
domingo, 27 de setembro de 2009
Cidade Fantasma
Os sons da noite trazem segredos que nunca ninguém ouviu. Sou uma privilegiada nesta noite inquieta, e enamorada das vozes e deste ruído infernal. É a passagem das horas na incerteza de alcançar o próximo apeadeiro. O ruído estende-se na berma da estrada, e o vento suave deixa um fio muito ligeiro na minha pele. Do meu cabelo negro, solta-se um brilho clareador nesta madrugada. É da densa névoa que paira sobre o rio. Remendei a estrada para poder passar livre e alegremente sem ter que pedir licença aos transeuntes, mas mesmo assim, não vi que essa mesma estrada, já tinha sido tocada por momentos que já não sabem o que são, nem são o que sabem. Deverão ser só almas que vagueiam sem destino.
Há um uma voz solicita em silêncio. Nessa direcção uma outra a alcança numa fracção de segundos, e há também olhares que se trocam em cumplicidades loucas entregues à brisa que passa. Assim me detenho perante este olhar que se foca no meu rosto, sem deixar de passar pelo meu cabelo. Se ele tiver a cor do meu olhar decerto será uma cor neutra, quase a tocar no vazio. Assim estão os meus olhos indiferentes ao movimento da cidade. Há nesta mudez uma calma inventada, porque ao longe, ouve-se o ruído dos carros que passam - audível mesmo estando eu neste estado semi-anestesiado, pelo embate violento a que me sujeitei, nesta suave brisa da madrugada. Ao longe, os barcos anunciam largada, e as luzes deixam na corrente um colorido enfeitiçado. Sobre os meus ombros há um toque gelado que é coberto com o rescaldo da noite. Maciez quente a exalar-me os sentidos. Etéreos gestos tão firmes e delicados.
(Perdi-me no teu sorriso e nos sinais de brancura com que pintas as cores da noite)
Caminho sem destino, mas acordado o sol, terei que adormecer no seu regaço. Guardo o teu olhar no meu corpo, registei o teu sorriso e o carrossel que inventaste para me mostrar as voltas que demos, ainda anda às voltas sem parar. Mesmo que eu o queira fazer rodar no sentido contrário aos ponteiros do relógio, é impossível. Tu estás lá para me travar e me ensinar como se habita um olhar esquecido numa cidade fantasma.
Viagem

Já aqui não mora ninguém
Que me possa levar
Nesta viagem
Até à outra margem
Fecharam-me este abrigo
Levaram consigo
Todos os pertences
E deixaram comigo
Só alguns grãos de trigo
Se quisessem
Podia falar-lhes
Do vento que passa,
E do fumo que abraça
Mas nunca de nós
Na mesma barcaça
Agora há só fumaça
Que alegremente esvoaça
Há um timbre afinado
E um pasto aberto
À água que passa
sábado, 26 de setembro de 2009
Cantar de Amigo
Rituais perdidos
Ou bailados
Em palcos esquecidos?
*
Incertos são os passos
Neste caminho
Há um perigo iminente
Sempre que penso
Como pedir ao tempo
Um cantar de amigo
Almas Penadas
Por fim, não passamos todos de almas penadas, envoltas em quimeras de um tempo que nunca passa sem partir. Há neste caminho, vestes para remendar à chegada da luz. Se me quiserem seguir, terão que esquentar os lugares, sempre que os olhares se erguerem e formarem esferas obliquas que caibam na minha mão. O sol tem-se feito rogado e eu segui em frente sem olhar para trás. Sigo há já algum tempo o percurso da esfera armilar. Parti sem destino e sem esta vontade louca de me saciar num encontro mais que perdido nas pedras negras duma calçada. Os meus passos são agora mais firmes, porque te esqueci num beco qualquer. Esta cidade fantasma, que se alimenta de corpos que se querem nus, nas horas em que as estrelas baixam sobre o rio, traz-me ao colo há já muitos anos. Vi-te um dia com os olhos postos no céu, e sorriam como quem se vê a viajar no espaço. Trazias nas palmas das tuas mãos, uma marca que vem de muito longe, saciavas-me nas noites calmas, ornamentadas pelos rostos caídos em jeito de amar. Eram quase todos da mesma cor. Indiferentes e circunspectos, iam sempre em direcção ao ponto de onde brotava qualquer fonte de alimento á sua alma. Se é que tinham alma, estas almas penadas, que de tanto correr, já cansadas se vestiam de branco, para poderem ser vistas na sombra onde o fado é malandro a vaguear pelos cantos.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Cantei-te Um poema
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Esboços

Mas, vivo assim na anuência dos dias, em que partir também é ficar, se me lembrar de novo quem eu sou. Preciso deste silêncio enamorado, em que amar era dialogar sobre um amor presente num corpo guardado. Esqueci-me há já algum tempo, por não ter tempo para nele me contemplar. Estão lá todos os olhares que trocámos, todas as palavras que esboçámos paralelas no tempo, em que fomos tudo o que quisemos.
Eu fui ausência indiscreta, tu permanência concreta.
Tu, foste sempre tu. Eu, fui sendo nos teus olhos a invisibilidade de um único traço.
Como seguir-te os passos? Já nada me prende aqui. Sou só alguém que se perde nas vozes que cala, quando consente, sentindo que as mesmas são só um caminhar contra o tempo. Ouvi-as num choro lavrado em lençóis de linho puro. Esta linhagem que se firma no nosso rosto é grandiosa e esplendorosa, e eu fixei-me nessa alvura. Há fugas que são um presente em cada esquina dobrada e novos encontros à espera. No cais há segredos guardados de outros tempos.
Já fui espinhos nas rosas e essências em brocados fantasiados. Agora sou pétala delicada, onde mora a tristeza. Não me creias nua. Não o sei ser! Perdi-me nessa brancura e desfiz os traços pincelados na minha pele.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Porto de Abrigo
Um só tempo
Nos caminhos das lembranças
Aporto em lugares fora de tempo
E encontro-me algures
Num momento
Em que o futuro é canção
E o passado é tormento
Nos acordes do vento
Como te encontro
Se meus olhos são turvos
Nestes caminhos que invento?
Há um renascer no meu pranto
Quando te encontro
(São histórias de mim
Num manto rasgado
(Cobrem-me o corpo molhado)
E por todos os lugares
Há um traço apagado
E nas arestas do tempo
Há caminhos traçados
E há sempre um resguardo
Onde me sento
(Há um porto nado em cada estado)
Reflexos Meus

Sonhava assim como quem vê
A sua própria sombra
Nos reflexos da lua
Percursos alienáveis
Travessias apagadas
Nas translúcidas correntes
Rio inatingível
De sonhos lavrados
Em vultos caídos
Desgraça minha
Em caminhos meus
Voltagem acinzentada
Pincelada de mistério
Outrora sedutor
Das águas
Auréola acobreada
Na aragem que passa
Camuflada
Dos percursos meus
Alienação das águas
Nos caminhos corrompidos
Mas mesmo assim
Eu quero ir
Por este sonho acima
Encerrar-me no limbo posto
Quando te encontrar do outro lado
Reflexos meus
Modelos teus
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Imagina-me..

Da minh'alma que chora
Num beco perdida
À procura de nada
E de tudo
O que este amor
Já inventou
*
(Queria tanto dizer-te
Que o sonho marcou
Esta viela que já cantou
E no silêncio se afundou)
Imagina-me nesta loucura
Um sorriso que em ti ficou
Em que fui desejo ardente
*
È na vigília da tarde
Esta densidade mórbida
Reflexo do meu olhar lacrimejante
*
É esta fuga constante
Que me faz ser permanência
Em ti e em mim
Resta-me um único tempo de verdade
O da esperança molhada
*
Em vão, sofro
E o nada é já tudo
No meu corpo desnudo
Na inerte madrugada
À espera de Ti
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Cansaço

Desfigurado
É um brilho difuso
Que resta à luz
Deste adorno
No meu regaço
E dele beber
Há um fio no caminho
domingo, 13 de setembro de 2009
Abismos
Vi-te hoje ao passar da esquina, enxovalhado, dobrado, encarquilhado, pela dor de não conseguires voltar a tua verdadeira face para a lua. São fases distintas que ela suporta nestes becos ensanguentados. Mas, nunca mostra ela também a sua verdade, nas noites em que uma das suas faces brilha sobre as águas que correm, serena e tranquilamente em baixo da ponte. Nesses escombros onde te deitas, já não há nada, a não ser um pedaço de chão que te aceita. De uma forma ou de outra, o chão que pisamos é de todos, mas aceitavelmente, pertence a quem por direito o ocupa, já que são as noites e os dias, os pilares que o sustêm. Há noites que são calmarias nos teus desejos, e dias que são como feixes de luz a queimar as entranhas da terra. Não sabes para onde te dirigir, e gastas o tempo a correr desenfreadamente, e sem forças para saberes discernir, se o dia ainda é manhã tardia, ou se a noite é ao entardecer, a caminhar para o abismo onde te deitas.
Lembro-me de olhar para ti, e tu sentado naquele banco de jardim, onde eu passava sempre acompanhada. Via-te, mas como não te conhecia, seguia o meu caminho, sempre na esperança de te encontrar mais à frente, quando tivessem cessado todos os olhares. Mas as vozes que te seguiam eram expostas às chuvas do fim do verão. Passei por mais um filão, e à beira rio, um beco estreito, que se deleita às costas de um sol que só espreita por entre as casas onde já nada sobrevive. Lamentos, choros de crianças e os pais são como os saltimbancos, em busca do pão que a seara já deixou de fabricar, faz tempo. Eu, inundava-te os passos de utopias, e lembranças de outros tempos em que também eu ocupava o mesmo chão.
Como sinalizar os espaços? Estremá-los de modo a que possamos ficar inteiros na terra de ninguém? Há só um caminho! Baptizá-lo e delimitá-lo com as marcas que os nossos corpos contêm. Os trajes verdadeiros são sempre manufacturados pelos olhares da alma, e vesti-la, é um gesto que nos cabe por inteiro, mesmo que nos falte um pedaço de chão.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Submundos

Os dogmas instituídos!
O que será deles num futuro, já passado?
Dilema
Amostra de gente
Natural(mente)
Aliciada
Desfigurada
Retorna à luz
(Virtual)íssimo
O ritmo cardíaco
In-determinado
Expira um único tema